terça-feira, 22 de dezembro de 2009

E neste Natal a minha prenda eu quero que seja...

Rohmer contra Rohmer






Este Natal vamos ter Eric Rohmer em dose dupla. Ou mais ainda: são dez os filmes do realizador francês editados pela consoada. Juntam-se os seis da série Lendas e Provérbios ao quatro dos Contos das Estações, e ficamos com uma ideia da grandeza deste realizador singular. A Atalanta já tinha editado, no final do ano passado, os seus Contos Morais, obras essenciais do início de carreira, fundamentais para definir o seu estilo e a sua pertinência enquanto voz da Nouvelle Vague. Agora sai este conjunto de seis filmes, com uma unidade temática, a que Rohmer dedicou praticamente toda a década de 80. A cada filme corresponde um provérbio. A série começa, logo em 1980, com A Mulher do Aviador, um história simples de desencontros amorosos, em que passado irrompe no presente de forma misteriosa. Passa para Um Belo Casamento, com contornos mais próximos de um drama psicológico, centrado nas contradições amorosas de Sabine (interpretada por Béatrice Romand). A obra maior da série talvez seja Pauline na Praia, que ganhou o Prémio da Critica no Festival de Berlim. A história de uma jovem, de 15 anos, que aprende, cruelmente, a ser adulta. Em Noites de Lua Cheia, destaca-se a interpretação magnífica de Pascale Ogier, porventura a melhor da sua carreira, que lhe valeu um prémio em Veneza. O Leão de Ouro foi entregue ao filme seguinte, O Raio Verde, considerado uma das obras primas de Rohmer. A série termina com O Amigo da Minha Amiga, que, como o nome indica, fala de duas mulheres apaixonadas pelo mesmo homem. Esta caixa, à venda exlusivamente na FNAC, inclui ainda preciosos extras, como entrevistas ao realizador e alguns actores.

Seguindo a fascinante obra de Eric Rohmer, a Midas edita, em conjunto e em separado, a tetralogia das estações, a que o realizador dedicou grande parte dos anos 90. A época do ano condiciona o espírito e os amores. Novamente, Rohmer foca-se nas relações humanas, nas paixões e desamores, em busca de uma essência amorosa. Assim acontece em Conto de Primavera, logo em 1990. No de Inverno, imperam as saudades de um Verão, num filme que ganhou o Prémio da Crítica em Berlim (1992). Eric Rohmer interrompeu a tetralogia com dois outros filmes até que, quatro anos depois de Conto de Inverno, mostrou o seu Conto de Verão, que como se pedia fala da volatilidade das paixões. Acaba no Outono, em 1998, para falar do amor numa idade mais avançada, onde as paixões ganham outros contornos. Apaixonante é a obra de Rohmer, realizador que está quase a fazer 90 anos, e continua com uma vitalidade que só não nos impressiona mais, porque temos por cá o exemplo extremo de Oliveira.


Varda a ver o mar

Femininista, activista, cidadã mundo, Agnés Varda é uma mulher entre homens na Nouvelle Vague francesa (apesar de ser belga). Em As Praias de Agnés, filme que teve um enorme sucesso em Lisboa, estando vários meses em cartaz, faz uma espécie de retrato autobiográfico. E a sua vida é tão rica que, por exemplo, o facto de ter conhecido Jim Morrison ocupa apenas uns segundos na película. Mais importante foi a sua relação com Jacques Demy, seu marido, e grande figura do cinema francês. As Praias de Agnés é agora editado em DVD, numa edição repleta de extras, incluindo uma entrevista à realizador, que este ano passou por Portugal (o JL também a entrevistou). Entretanto, também foram lançados outros dois filmes marcantes da carreira de Agnés Varda: Sem Eira nem Beira, de 1985, com Sandrine Bonnaire; e Duas Horas na Vida de uma Mulher, uma espécie de filme-ensaio, numa zona de fronteira de géneros.


Um amor de Perdição

O artigo indefinido não está lá por acaso. Mário Barroso, director de fotografia de parte da obra de Manoel de Oliveira, quis fazer uma versão actualizada da célebre história contada no romance Camilo Castelo Branco. Porque há histórias que se repetem ao longo dos tempos. Então fez Um Amor de Perdição, como quem faz Um Romeu e Julieta, porque na adolescência tudo é eterno e por vezes fatal. Recontextualizou a trama numa Lisboa abastada e revelou um novo e bom actor para o cinema português, Tomás Alves. Além disso, é de destacar a actuação de Catarina Wallenstein, actriz que esteve em grande durante 2008, bem como a dos experientes Rui Morrison, Ana Padrão e Virgílio Castelo.

A segunda obra de Mário Barroso, depois de Milagre Segundo Salomé (a partir de José Rodrigues Miguéis) é a pré-candidata ao Óscar para o Melhor Filme Estrangeiro por Portugal, mas é pouco provável que chegue a Hollywood. Aliás, seria um feito inédito. Esta edição em DVD contém dois discos. O primeiro com o filme, e o outro cheio de extras, incluindo entrevistas ao realizador e aos actores.


Coisas para rir

O humor em Portugal nunca mais foi o mesmo desde que o quarteto Gato Fedorento fez a sua revolução na televisão portuguesa. Com uma hábil gestão de carreira, o grupo opta por longos intervalos. Após o fim da série Esmiuçar os Sufrágios, suspenderam por tempo indefinido o seu regresso à televisão. Durante este jejum, a privação do seu humor pode ser compensada com recurso a DVD. Como esta caixa de cinco discos, dedicada à série Zé Carlos. Estão aqui todos os episódios que passaram na SIC, num programa com um formato parecido com Diz que é uma espécie de magazine, em que os humoristas se servem da actualidade, recorrendo frequentemente a imitações. A caixa inclui um precioso bónus: a Série Barbosa, que passou na SIC Radical, que inclui alguns dos melhores sketches do grupo. Ao contrario do que acontece posteriormente, estes sketches adquirem uma dimensão intemporal, porque não estão presos a acontecimentos concretos. É aqui que aparece o famoso ‘isso vai dar uma ganda volta’. Outro extra é a gala de fim de ano de 2008, em que o Gato Fedorento celebrou a passagem para 2010. Um anacronismo que agora faz todo o sentido.

Num género mais buçal, é a série Um Mundo Catita, que passou na RTP2. Contrariando a onda de sketches, proposta pelos Gato Fedorento, Contemporâneos, entre outros, a trupe de Manuel João Vieira propõe uma série ficcional humorística, em seis episódios. Quem gosta e se sente familiarizado com o universo dos Ena Pá 2000 e Irmãos Catita não ficará desiludido com estes DVD. O próprio Manuel João Vieira é o protagonista desta história onde, entre outros, aparece Gimba. O argumento é de Filipe Melo e João Leitão. Como extras: entrevistas e making of. E, imagine-se, tem legendas em sueco.

E agora para algo completamente diferente. Se há humor que nunca perde a actualidade é o dos Monty Python. Talvez daí a lógica do título desta edição comemorativa: 400 anos de Monty Python (não é gralha, são mesmo 400). Uma edição luxuosíssima, que inclui a série completa Flying Circus, o filme Monty Python e o Cálice Sagrado, numa edição especial de dois discos; A Vida de Brian, também em dois discos; o espectáculo ao vivo no Hollywood Ball; e ainda um DVD só com reportagens inéditas. De rir e chorar por mais.


Clássicos celebrados

O fim do ano é tempo de reedições especiais de grandes clássicos do cinema. É o caso de Branca de Neve e os Sete Anões, o clássico dos clássicos das animações da Disney, de 1937, que agora surge numa edição restaurada, que inclui um livro e extras jogos, telediscos ou o famoso tema Eu Vou em versão karaoke. Igualmente mágico é o universo de O Feiticiero de Oz, que este ano chega ao 70.º aniversário. O filme é reeditado numa versão restaurada que inclui um DVD só com extras, com documentários variados ou uma Juke Box com mais de seis horas de música, a propósito do filme. Também E Tudo o Vento Levou, o grande épico americano, comemora os seus 70 anos como uma edição especial em quatro DVD. Como se calcula são imensos os extras: um making of, apresentado por Cristopher Plummer, uma curta-metragem sobre o velho sul, um documentário inédito de Melanie Remembers, e filmes biográficos de Clark Gable e Vivien Leigh. Baastante mais recente é Easy Rider, que há 40 anos chegou às salas. O clássicos dos filmes de motoqueiros, escrito por Denis Hopper e Peter Fonda (realizado pelo primeiro). Entre outros méritos, este filme despertou a atenção sobre um jovem actor chamado Jack Nicholson. Esta edição, em dois discos, inclui os comentários ao filme de Denis Hopper e o making of.


Artes e Artistas

São seis os documentários que se juntam nesta colecção, todos eles sobre artistas e realizados por autores portugueses. A maioria passou em sala, no Doc Lisboa. É o caso de O meu amigo Mike ao trabalho, realizado por Fernando Lopes, sobre Michael Biberstein. Bruno de Almeida realiza 6=0 Homeostética, sobre um dos mais importantes movimentos artísticos portugueses dos anos 80. Joana Cunha Ferreira visita o universo de Joana Vasconcelos. A pintura de Helena Almeida é retratada por Joana Ascensão. E Jorge Silva Melo apresenta dois filmes: Gravura, esta mútua aprendizagem, e Nikias Skapinakis, O Teatro dos Outros. São produções e edições da Midas de inequívoco valor documental e cultural.

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