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quarta-feira, 16 de abril de 2008
O outro que era ele
Uma Segunda Juventude
, de Francis Ford Coppola
A pergunta para os detractores do último filme de Coppola é: «O que é que queriam que ele fizesse?» O que se pode esperar de um realizador que assinou o estrondoso Apocalipse Now e a trilogia do Padrinho? Que esteve três décadas no activo, a realizar filmes maiores, menores e outros médios - das juventudes inquietas, ao néons lasveguianos, aos vampiros da Transilvânia...? Ao fim de dez anos afastado da director’chair, Coppola não regressa, felizmente, com um filme para desencalhar. Juventude sem Juventude é talvez o filme mais íngreme da sua carreira – ainda mais do que o incompreendido Do Fundo do Coração... É íngreme, pedregoso, cheio de atrito, e ainda por cima, depois de se chegar ao topo, não se tem a garantia de uma vista recompensadora... É verdade que nem os espectadores são alpinistas, nem têm de gostar de escalar a atmosferas rarefeitas. Mas «o que querem?» Este é o Coppola em rédea solta, sem comprometimentos com prazos, ou estúdios, ou financiamentos controlados. E é sempre um privilégio saber o que vai na cabeça de um Coppola, quando esta não está ocupada com assuntos menores. E perceber que descarga eléctrica é esta que atingiu o realizador, desta vez em que andava à chuva, lançado à tempestade, sem capacete nem antena pára-raios.
Rodado na Roménia (as paragens mais electricizantes da geografia cinematográfica actual), com baixo-orçamento, e numa lógica de auto-financiamento – como nos velhos tempos -, Juventude Sem Juventude conta a história de um idoso professor, investigador académico, filósofo e linguista, que tem a sorte de apanhar com um raio em cima. Sorte porque em vez de sucumbir logo ali electrocutado, esta descarga de milhões de volts fá-lo rejuvenescer. Não só o seu corpo, a sua pele, as suas rugas, os seus dentes e cabelo se regeneram, como assim que sai daquele envolvimento larvar no hospital, o doente revela-se hipermnésico. Lembra-se de tudo, lê um livro só de olhar para a lombada, domina todas as línguas existentes, inventa uma que melhor lhe convém, faz mover objectos com o poder da mente... E o que faz este velho novo professor com os seus poderes? Para que usa o fogo que roubou do Olimpo? É aqui que se declara o que de mais maravilhoso se encontra no filme de Coppola. É que Dominic Matei (assim se chama a personagem) não ambiciona dominar o mundo, nem mudá-lo, nem conquistá-lo, nem salvá-lo. O que Dominic quer prosseguir a investigação científica da sua vida, ir até ao fim –que é o princípio – da história da linguagem. Chegar ao ponto inicial, ao momento inaugural de toda a comunicação, à linguagem primordial, a mãe de todas as línguas, a primeira de todas, as origens de tudo, até à proto-linguagem, até à primeira palavra articulada. É isto – só isto que o move. Ou seja, ele quer mesmo dominar os mundos. O que, convenhamos, para herói cinematográfico este «só» é só... esmagador.
Claro que, como todos os Prometeus que se passeiam com faíscas incendiárias, Dominic paga o seu preço. Primeiro porque é um mutante, o ser mais precioso à face da Terra e, logo, disputado por nazis (o cenário do filme é o da segunda Guerra Mundial). O segundo é que ele se torna um jovem sobrecarregado com o peso da velhice e da sapiência (uma juventude sem juventude, e então, de que serve ser novo?). E depois porque, no pacote da segunda oportunidade vem também a hipótese de se reencontrar com o amor desperdiçado na primeira vida, e desperdiçá-lo segunda vez é demasiado para um humano coração.
As marcas de excelência de Coppola estão todas lá, a fusão do classicismo e do experimentalismo mais anti-naturalista é perfeita, até os planos invertidos funcionam, e Tim Roth foi uma aposta ganha – o problema é que o filme, baseado no romance teológico do romeno Mircea Eliade, cai numa espécie de alçapão simbólico, que se abre para outro e mais outro, numa profusão de significâncias enroscadas como matrioskas. Já temos em campo o tema da imortalidade, e juntamo-lo ao da encarnação, ao da regressão, ao da religião, ao da história das civilizações, ao do tempo, ao da iniquidade humana, a todo o tipo de conceitos místicos, míticos e filosóficos. Comos se não bastasse, ainda temos o nosso herói em duplicado (o raio pelos visto dividiu-o ao meio): Dominc tem duas faces com os discos de vinil, dupla personalidade, ele é aquele, mas também outro. O que pode ser da maior conveniência de argumento, já assim o personagem tem a oportunidade de ter consigo próprio as mais dialécticas discussões filosóficas....
E como se não bastasse ainda, aparece o tema do amor. Pois é, aqui, confessamos, o espectador pode perder a vontade de continuar o puzzle, e deixá-lo incompleto, em cima da mesa.
O romance do filme é o menos conseguido de tudo. Por alguns momentos parece que Coppola quer voltar ao seu vampírico casal. Faz-se um link para o Drácula de Bram Stoker, não só porque estamos naquelas roménicas paragens. Mas também porque se fala, outra vez, de amor, acima dos tempos e da matéria.
E é preciso morrer sempre primeiro se se quiser nascer outra vez. E aí está Coppola renascido. Este é o seu filme – muito - pessoal. A questão é se consegue ser o filme pessoal de mais alguém.
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