terça-feira, 21 de julho de 2009

Como matar a morte

The Haunting in Connecticut, de Peter Cornwell







Quando a morte se aproxima, o que fazer? Fugimos a sete pés? Tilintamos os dentes? Damos-lhe um murro no nariz?
É uma questão de atitude. A forma como se lida com a morte é o grande truque para continuar vivo. É o que se aprende em The Haunting in Connecticut, de Peter Cornwell, um filme de terror, sobrenatural, supostamente baseado numa história real, contada por Ray Garton, no seu livro Dark Valey (o único de não ficção do autor). Sobrepõe dois planos fortíssimos, um real e outro espírita, de forma inteligente, e obedecendo escrupulosamente às regras do género. Mais do que obedecendo, assumindo mesmo alguns lugares comuns, dos mais banais que se possam imaginar, como o da casa assombrada, revertendo-os sempre a seu favor.
Começa por ser um filme de sustos. E de sustos valentes com técnicas bem apuradas de montagem de som e imagem. Embora as sequências muitas vezes se tornem um pouco repetitivas (descuido que não chega a ser fatal), sobretudo quando se desfaz o tenebroso para o real. The Haunting in Connecticut começa por ser um filme de alucinações. Pelo que não há limites para o terror. A qualquer momento qualquer coisa se pode transformar em algo de monstruoso.
A história é basilar. Matt (Kylle Galner) é um adolescente gravemente doente, que vive à beira da morte. A sua família faz um esforço para o acompanhar. Como nos Estados Unidos não existe um Serviço Nacional de Saúde propriamente dito, parte importante do problema passa a ser financeira. É difícil suportar os custos do hospital. Mesmo assim, para seu maior conforto, decidem mudar-se para Connecticut e assim permanecerem mais próximos do hospital. A mãe, um bom papel de Virginia Madsen, descobre uma casa, uma mansão, com uma renda mais barata. Tem apenas um problema: foi uma antiga casa mortuária, que esconde uma tenebrosa história que aos poucos o filme revela.
Está montado o cenário. A partir daqui basta as personagens dançarem, com alguns passos. E dançam bem. E o argumentista trata de acrescentar alguns passos que elevam a coreografia. O adolescente não pode ser abraçado, devido a queimaduras no copo, nem confessar que tem alucinações, senão é banido do programa piloto para tratamento em que está inserido. O que faz com que o jovem guarde para si aquele terrível mundo.
Dá-se um dedobramento natural em filmes do género: o que ele vê, aparentemente tem uma explicação racional (as alucinações de que sofre), mas o enredo vem a mostrar que existe uma explicação irracional e sobrenatural que se contrapõe e a ultrapassa, descansado ironicamente o espectador com a mensagem: o irreal existe.
É um filme com desenho perfeito, sem pontas soltas nem arestas por limar. Tudo bate certo, sem que haja grandes golpe de génio. Até porque os lugares comuns repetem-se: um pai bêbedo e um padre exorcista. Contudo, alguns pormenores valem bastante. E há um tom que afasta o filme da habitual e saudável leviandade do género. Retém-se a ideia: «Muitas das estrelas estão mortas, só que ainda não nos chegou a notícia».
O facto de Matt estar às portas da morte dá-lhe poderes sobrenaturais. O que é rico neste filme é que o adolescente faz dessa luta com a morte uma questão física. É obrigado a lutar literalmente com os mortos para que assim se mantenha vivo. Como se tivéssemos a oportunidade de roubar o sacho à ceifeira e cortar-lhe a cabeça de um só golpe.

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