segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O ciúme é o amor dos fracos

O Outro Homem, de Richard Eyre






O potencial fílmico da obra do escritor alemão Bernhard Schlink é uma constatação recente dos realizadores anglófonos. Depois da excelente adaptação de O Leitor, por Stephen Daldry, com várias nomeações para os Óscares, em que Kate Winslet faz um dos melhores papéis da sua vida, chega-nos O Outro Homem, de Richard Eyre, a partir de um conto do escritor alemão. Claro que a história não é tão rica como a de O Leitor, nem os objectivos tão ambiciosos: não se passa pela História da Alemanha, não se expõem as suas feridas nem os seus fantasmas. Aliás, igualar o romance tão forte, marcante e bem construído como O Leitor é uma dificuldade séria do próprio Schlink, que aqui se repercute, de forma evidente, no cinema. O Outro Homem aborda um tema nada ligeiro, mas bastante mais corriqueiro: as pessoas e as suas relações.
Tal como o romance, o filme vive da densidade das personagens e da sua obstinação. Estando assim particularmente dependente da capacidade interpretativa dos actores. Bem conseguida, no caso de Liam Nelon; um pouco mais óbvia, no de António Banderas.
Na sua essência, O Outro Homem é um dramalhão, depressivo e doentio, daqueles que nos põem logo de início um caroço na garganta e não nos deixam cuspir no fim. Indicado para quem está afim de verter umas boas lágrimas. É uma obra de fantasmas sentimentais, resgate de memórias e de vidas. Depois da morte da sua mulher por cancro, Peter (Liam Neeson), director de uma próspera firma de software, ao remexer as coisas da falecida, vai descobrindo segredos insuspeitos, e toda uma vida oculta, em alto contraste com a imagem deificada que deixou na família. Descobre-lhe mesmo um amante, em Milão, e numa raiva insana, numa brutal mistura de sentimentos, parte ao seu encontro, não só para o conhecer como para o matar. No entretanto, vai descobrindo os pormenores mais sórdidos e picantes da relação da esposa com aquele playboy de meia tigela (António Banderas).
No centro está a questão do ciúme, visto como argumento dos fracos, na complexa tarefa de compreender a personagem ausente (tão protagonista como o Alex do filme de Kasdan), sem nunca tomar partido. Quem tem razão quando ninguém tem razão.
Peter faz uma viagem exorcizante, espanta-espíritos, que culmina num elaborado plano de vingança do amante. Mas o que realmente o faz regressar não é a vingança, mas sim a redenção. O Outro Homem é uma poderosa reflexão sobre o amor numa situação limite, que se aproxima de thriller psicológico, mas não chega lá. Richar Eyre (Diário de um Escândalo) construiu a sua carreira sobretudo à base de séries televisivas inglesas. Aqui mostra o seu apreço pelo melodrama. O Outro Homem é um filme típico inglês, à antiga, pintado em tons de cinzento, reflectindo a obsessão de dois homens, ambos retratos de insanidade, numa exposição crua da condição humana.

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