quarta-feira, 22 de abril de 2009

A marcha de Herzog

Encounters at the End of the World, de Werner Herzog





Não se percebe porque é que Herzog, que já se deslocou aos locais mais improváveis do planeta, não há-de vir também a este fim do mundo, ou fim da Europa, que é Portugal, durante a 6ª edição do Indie, onde é homenageado, enquanto herói independente. Ele diz que gosta sempre mais do seu próximo filme do que dos anteriores. Não lhe interessam retrospectivas. Além disso está demasiado ocupado a rodar com Lynch como produtor.

De qualquer forma, o público irá encontra-se com ele, em mais um dos seus filmes de fim do mundo, que nunca teve oportunidade de ver as luz dos projectores nas salas de cinema portuguesas. Encounters at the End of the World é um documentário rodado no exacto pólo para onde todos os meridianos do planeta convergem. Depois do Saara, da Amazónia, dos desertos da Austrália, das ilhas misteriosas...a marcha do realizador alemão, pelos sítios mais remotos e radicais da Terra, chegou até aqui... Não se espere mais um filme sobre pinguins… Encounters… vem sempre acompanhado pelo olhar assombrado de Herzog. E de facto, é um documentário especial, porque o realizador alemão (que agora é mais ou menos do mundo) tem um daqueles olhares de criança, ou de poeta, que ainda guardam a extraordinária capacidade de se deslumbrar com as coisas mais corriqueiras da vida. Diz-se que as pessoas normais se ocupam de coisas especiais, os verdadeiros sábios apenas de coisas normais – tão normais como uma estalactite de gelo numa gruta ou um catterpiller a abrir caminho entre a neve suja. Herzog faz do cinema uma reflexão, a muitos graus abaixo de zero, na latitude sul 66º6, onde durante cinco meses não existe noite. Este pólo não está ocupado, como nos clichés, de iglus, mas de laboratórios, barracões, escavadoras, barulho, confusão, como nas terreolas recentes dos filmes do faroeste. E é este ponto, infinitamente branco – tão branco que se torna azul – que Herzog filma e disseca. Não só as focas e as estrelas do mar debaixo de gelo. Mas a outra fauna humana tão especial, que, na realidade, o habita: cientistas, sábios, biólogos, glaciologistas… Herzog chama-lhes «sonhadores profissionais».

Encounters at the End of the World, de Werner Herzog, é um filme de abertura do Indie Lisboa, amanhã, 23, às 21.30, no São Jorge

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