sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A última saída



35 shots de Rum, de Claire Denis








O principal mérito de 35 Shots de Rum, da experiente realizadora Claire Denis, é o afastamento dos estereótipos do novo cinema francês: não é mais um filme sobre a burguesia, nem sobre os subúrbios de Paris ou Marselha, nem os actores são brancos ou árabes. 35 Shots de Rum espelha uma França negra, há décadas enraizada, sem sombra de problema social ou de minoria étnica. A França de Lionel, que é maquinista do metro (Alex Descas, que grande actor!), e da sua filha. Acaba, assim, por ser um filme banal sobre pessoas normais, e como diz Laurence Ferreira-Barbosa (outra realizadora francesa), as pessoas normais não têm nada de especial, o que tanto pode resultar em virtude como em tédio.
O filme centra-se numa família atípica, mínima e excessivamente coesa, assente num equilíbrio peculiar da relação pai-filha (a filha já adulta), que funciona como um casal. Este eixo, tão forte e intenso, desequilibra-se com a entrada de novas personagens, sobretudo com o namorado da filha, mas também com as amigas do pai. A dependência é enorme e o corte do cordão umbilical inconveniente, pelo que a jornada de libertação, amadurecimento, se revela estranhamente infrutífera, e a única felicidade possível está no retorno a casa e ao estranho código binário, que tanto os liberta como os aprisiona. Uma saída sem saída.

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