segunda-feira, 9 de junho de 2008

Perdidos sem achados

Um Homem Perdido, de Danielle Arbid




Depois de Caramel, este é o segundo filme libanês que aparece nas salas portuguesas, num espaço de poucos meses. Quer dizer, este Homem Perdido, é um filme meio-libanês, a realizadora Danielle Arbid é libanesa de nascimento, vive em França. Aliás, o constrangimento do meio-termo há-de ser o que o filme tem de mais interessante e, ao mesmo tempo, (o que não é necessariamente paradoxal) aquilo que vai comprometer todo o filme. O meio termo está sempre emparedado, tem de um lado aquilo que já não é, e do outro aquilo que não conseguiu ser. De um lado: não é um filme desinteressante. Do outro: não consegue dar o salto em frente, o meio passo que falta para ser uma obra bem conseguida. Meio termo também, entre um lado oriental mais bizarro, e um lado europeu bastante menos original. Um Homem Perdido joga neste meio campo, entre um início prometedor, um desenvolvimento fastidioso, e uma resolução bastante decepcionante.

É a história de dois homens voluntariamente perdidos cujas vidas se cruzam. Um libanês enigmático, de olhar espesso e passos errantes, que tem o passado envolto em biombos e cortinas enevoadas e um francês fotógrafo que só quer escancarar cortinas, e dissipar nuvens e outras obscuridades. Por isso à imagem do fotógrafo real Antoine d’Agata, o personagem francês tem esta obsessão que é capturar as suas presas com a objectiva, fotografa prostitutas enquanto tem sexo com elas. Ele um invasor da privacidade de mulheres públicas. Em hotéis baratos, bordéis, nos bares da Síria, da Jordânia... O dinheiro compra-lhe a indiscrição. E não contente com isto, ainda quer decifrar segredos, devassar a vida do libanês desmemoriado. Uma parábola da ocidentalização invasiva, possuidora e corrosiva, pode ser. Mas, às tantas, muito mais do que o homem, o que parece definitivamente perdido é o curso deste filme, na desorientação de um argumento sem rumo.

A somar-se à estranheza de termos uma realizadora mulher, que adopta o ponto de vista masculino e trata as mulheres como simples invólucros, meros veículos de guião, destituídas de interior e de personalidade, assiste-se à mais irreparável nudez da sua personagem mais forte: o desmemoriado argelino que percorria o Oriente com uma vacuidade no olhar, a fazer lembrar Travis, na itinerância de outros inóspitos Oestes, em Paris Texas. E lá se vai 99,9% do seu carisma da personagem, quando o mistério se torna óbvio, o passado descodificado e o opaco explicadinho. Afinal, esta era a história de quê? De um oriental com amnésia e um ocidental abelhudo?

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