segunda-feira, 4 de maio de 2009

O Estranho Caso de Oliveira Salazar

Salazar, A Vida Privada, de Jorge Queiroga






É uma espécie de Benjamim Button. Há um velhote enrugado e descabelado a tomar banho numa banheira... Daí a nada estará remoçado, vivo, fresco e de boas cores (às vezes até com mais baton do que as suas pretendentes), a saltitar pelos prados de Santa Comba Dão.

É uma espécie de Amália, só que desta vez quem faz de Brad Pitt, nestes papéis dos 7 aos 77, é Diogo Morgado, 29 anos.

Não... é o super-Salazar, que exerce o seu poder de atracção, como o homem do desodorizante, sobre as mulheres que se atravessam no seu caminho. Tal como em Amália, pouco interessava o fado na vida da fadista – a acção recentrava-se rapidamente nos seus encontros de alcova - , em Salazar, nem há tempo para preâmbulos, e o grande ditador aparece-nos logo a iniciar a carreira de grande conquistador.

Isto não é um filme. Continua a ser a mesma mini-série da TV, só que agora encolheram-se umas personagens e colou-se uma voz off, em que o próprio Salazar recorda as suas memórias eróticas, que mais não são do que esta sequência: a Felismina, depois a Hermínia, depois a menina Julinha, depois a Maria de Jesus, depois a Maria Emília, depois a Condessa, depois a Christine Garnier... Assim alinhadas, a vida íntima de Salazar até parece movimentada, mas segundo a tese do filme, ele só retoma o fio da sequência, a partir da idade madura, depois de já ser Presidente do Conselho, e ter cabelo grisalho. Depois de ter ditaturiado tudo, é que Salazar rejuvenesce, como o Brad Pitt, para os seus encontros amorosos com Soraia Chaves, Ana Padrão e Helena Noguerra.

Mas para além da versão «malandreca» do ditador, a quem os argumentistas chamam «gnomo gigantesco», a verdadeira originalidade do filme reside em terem-lhe desencantado um fim à Marat, na banheira, depois de anos e anos a impingir culpas a bancos, cadeiras de lona e outras peças de mobiliária.

A outra grande originalidade do filme é mostrarem que no peito de um desafinado, bolorento e bafiento ditador, também bate um coração. E ele até sabe fazer shonetos... E com que esmero pinta as unhas dos pés de Soraia... Um verdadeiro artista. Este é o filme mais anti-salazarista dos últimos tempos. Devia estar na nossa lista do inquérito na coluna à direita... A propósito, já votou?

1 comentário:

Anónimo disse...

Até o trailer parece uma piada...