quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vitória, Vitória e o resto é História

A Jovem Vitória, de Jean-Marc Vallée









Subiu ao poder demasiado cedo e abandonou-o tarde de mais. São os riscos que correm os reis. Esta, pelo menos, marcou uma era, a era vitoriana, atravessando a revolução industrial e as mudanças político-económico-sociais subjacentes. O filme conta os passos da rainha enquanto jovem imberbe.
A Jovem Vitória, de Jean-Marc Vallée, sofre de uma monotonia condizente com a de um país capaz de manter o mesmo chefe-de-estado durante mais de 60 anos (1837-1901). A Rainha Vitória protagonizou o mais longo reinado da Coroa Britânica e um dos maiores da Europa. Foi responsável por importantes mudanças significativas ao nível da educação e da assistência social. E sempre foi vista como uma viúva fria e rígida. Mas – espante-se – até a rainha vitória um dia foi jovem. E o que este filme faz é desmistificar a personagem dando a conhecer a sua juventude.
Vitória é tratada com um carinho imenso, em que se desculpam todas as suas falhas, elevando-a a um patamar altíssimo. Dá ideia de que o realizador se assegurou que o filme era suficientemente certinho para poder passar nas aulas de História da Inglaterra. A outro tipo de espectadores apenas levanta a questão: será que havia assim tanto para contar?
À boa maneira inglesa, A Jovem Vitória desenrola-se numa teia política, com várias artimanhas para chegar ao poder. Sustentando, sobretudo uma ideia: não há companhias inocentes. E Vitória é obrigada não só a crescer em público como a crescer enquanto reina. Por vezes, parece mesmo estar a reinar com os outros. Frágil e submissa a jogos de influências e usurpações de poder.
Como pode ser dura a vida de uma rainha... Mais solitária que solidária... O realizador desculpa-a pela infância, passada em sofrimento, não só pelos cuidados extremos (não podia subir nem descer a escadaria sozinha), consequência directa de ser a única herdeira do trono de Inglaterra, como pela pecaminosa companhia do padrasto. Mostra uma rainha de bom coração mas susceptível a influências nefastas. Adquirindo, simultaneamente, contornos feministas, pela coragem mostrada pela jovem mulher num mundo profundamente masculino, cheio de ministros e ministeriáveis.
Pois é: até a rainha Vitória amou e desamou, riu e chorou, foi feliz e arrependeu-se. O retrato humano da governante prematura não deixa de pôr, subtilmente, a nu as fragilidades do sistema monárquico: nada que preocupe muitos os ingleses, que gostam de histórias de rainhas.

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