segunda-feira, 23 de novembro de 2009

'We Want Moore!'


Capitalismo, uma história de amor, de Michael Moore





Se calhar é melhor explicar com duas laranjas... Deve ser muito fatigante. Michael Moore dedicou uma carreira a encontrar os argumentos mais claros, mais convincentes, e até por vezes mais demagógicos para convencer o povo americano da sua razão. Mas, apesar do esforço do pregador, a América continua indiferente. Ou talvez não. A eleição de Borak Obama conta? Serão as mudanças subtis ou efectivas? Há pelo menos esperança. Se a eleição de Obama significar uma forte mudança social rumo a uma América mais livre e mais justa, Michael Moore, porventura, perderá o emprego, ou talvez faça finalmente uma ficção ou um documentário sobre a fauna e a flora do Grand Canyon. Para já mantém-se atento. E, desta vez, achou oportuno atacar o mal pela raiz e declarou guerra ao capitalismo. O que é um caminho natural, depois de atingir o armamento, o Presidente Bush e o próprio sistema americano de saúde.

As palavras assustam, e esta guerra anti-capitalista não se apresenta num sentido extremista, num apelo à sovietização da América ou algo assim. Moore tem o cuidado de não levantar esses fantasmas do passado, a que o povo americano é demasiado sensível. Insiste numa outra dialéctica. O oposto do capitalismo é a democracia e não o comunismo. Porque o capitalismo selvagem não permite que uma sociedade seja verdadeiramente democrática.

Mas, se assim é, o que leva o povo a eleger aqueles que o prejudica? A alimentar o monstro com os seus votos? É a cenoura do sonho americano, a hipótese remota que todos têm de fazer parte da percentagem dos milionários. Moore denuncia que o sistema faliu e apela a revolta. Exibe as ilegalidades e afrontas das grandes empresas, da banca, e dos especuladores financeiros. Não usa o termo ‘grande capital’, mas é sobre isso que, no fundo, está a falar, com luvas de napa, para esconder punhos que se fecham.

Usa os termos cuidadosamente, porque se trata de um filme-missão e o seu objectivo máximo é convencer as pessoas a agir. Pelo mesmo motivo mistura a religião, com depoimentos de padres e bispos, que exclamam em uníssono que o capitalismo é pecado.

De resto, o filme obedece aos esquemas habituais de Michael Moore, com narração do próprio em off, a mistura de elementos pessoais: desta vez vemos o seu pai e a sua terra natal. A utilização, sempre bem-humorada e pertinente, de cenas de filmes antigos e a criação de happenings.

Considera o apoio do Estado à banca, com o pretexto de salvar a economia, um roubo aos cofres do estado. Assim sendo, pega numa carrinha e vai aos respectivos bancos, com sacos fundos, solicitar a devolução do dinheiro. Mais à frente, cerca a área do senado, com uma daquelas fitas vermelhas, pois afirma ter-se ali cometido umcrime.

Desta vez, contudo, há uma diferença crucial: o filme termina com um toque de esperança. Moore mostra exemplos de boas práticas: como uma fábrica que foi tomada pelos trabalhadores e assim, através dessa reivindicação, conseguiram manter os postos de trabalho. Pela primeira vez, fez crer de forma convicta: a revolução é possível, até na América. E ele está lá para isso: “Recuso-me a viver num país assim. E não me vou embora”.


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