terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Primeira morte

Second Life, de Alexandre Valente



Primeiro foram os realizadores portugueses que acharam que podiam muito bem passar sem os argumentistas – eles próprios se encarregavam de escrever. Agora vêm os produtores e acham que podem muito bem passar sem os realizadores – e eles próprios se encarregam de realizar (e escrever). A aldeia inteira dos macacos empoleirada no mesmo galho, desmoronamento garantido. E foi no que deu, numa espécie de karaoke do cinema ou de loja dos trezentos dos filmes.

Assiste-se a esta massa informe de celulóide desperdiçado, e fica-se com a sensação de que há mesmo quem pense cinema assim, como uma receita de culinária fast-food: põem-se ao lume uma série de situações de encher o olho, rega-se com o ketchup das caras televisivas, depois sai, pronto a mastigar, em inglês que é para disfarçar.

O filme é um conjunto de situações que se sucedem de forma aleatória, e desconexa, distribuídas por tantas personagens que a cada uma só cabe, em média, uma frase e meia. Primeiro há uma viagem de balão, depois um toureiro chamado pepe, depois uma Fátima Lopes de xaile a passear por ali, depois umas paisagens do Alqueva, depois uma cena de sexo lésbico, depois um morto na piscina que se torna o narrador (como no Crespúsculo dos Deuses, meu Deuses, só a analogia arrepia...), depois uma estátua à Cutileiro, depois uma menina frente à fonte de Trévi (onde é que nós já vimos isto?), depois um passeio de vespa frente ao coliseu romano ( ai, ai...), depois uma rave party com meninas de lingerie, máscara e um pianista (assim à De Olhos Bem Fechados de Kubrick, estão a ver?), e um Rui de Carvalho de rabo de cavalo, que francamente não merecia aquilo (e onde está a Eunice Munoz, esqueceram-se da Eunice Munoz...), depois um Nicolau Breyner cego, que faz uma pausa antes de cada palavra, tipo padrinho italiano, que gosta de conduzir a alta velocidade (onde é que se foram lembrar desta), depois um Figo a rodar um filme (ou lá o que é...), e um mordomo que é sempre o culpado... Bem, e pelo meio, ainda aparece o Jorge Malato, e (terei visto bem?) o Carlos Castro a desfilar por esta passarela voadora....

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