quinta-feira, 7 de maio de 2009

Casas de sonho

As Operações SAAL







As Operações SAAL, um documentário de João Dias sobre o projecto arquitectónico e social do pós-25 de Abril, vai finalmente estrear-se em sala, amanhã, 7, no Cinema City Classic Alvalade, em Lisboa. O filme estará em exibição apenas durante uma semana e conta com três sessões especiais (sempre às 19.15): sexta, 8, com a presença do realizador; sábado, 9, com Alexandre Alves Costa; domingo, 10, com José António Badeirinha. As Operações SAAL, produzido por Abel Ribeiro Chaves, ganhou o prémio de distribuição do DocLisboa, em 2007.
«O objectivo principal foi recuperar este património histórico português», explica, ao JL, João Dias, que filmou cerca de 150 horas numa longa investigação que depois resumiu a 100 minutos de filme. «Partimos para o trabalho com uma coisa que queríamos descobrir e não com a ideia estruturada de um filme. A câmara foi apenas a ferramenta utilizada», conta. Por isso há um espírito de missão associado à empreitada, que é o mais completo trabalho sobre o SAAL, juntamente com a tese do arquitecto José António Bandeirinha. «Uma das perspectivas é deixar claro que o SAAL foi um movimento de todo o país, e não apenas do Porto, como por vezes se quer fazer crer».
O interesse de João Dias pelo tema deve-se, em parte, ao seu pai (Manuel Dias), que esteve envolvido no SAAL Algarve, como desenhador. Para realizar este documentário, teve que se fazer à estrada por caminhos por si desconhecidos, em busca de arquitectos, técnicos e moradores. «Há alguém que diz: ‘Quando a gente vai para o SAAL o partido fica em casa’. Era um projecto que estava além dos partidos e que, infelizmente, não teve tempo para mostrar o que valia».
A João interessa-lhe deixar documentada esta experiência «futurante» para as gerações posteriores. «Há dois tipos de reacção em relação ao período revolucionário (de 25 de Abril de 1974 a 25 de Novembro de 1975): a adesão cega e a repulsa. A verdade está algures a meio caminho». Teve grandes dificuldades no acesso aos arquivos e, por isso, o realizador queixa-se da inacessibilidade do espólio da RTP bem como dos arquivos privados. E para que outros estudiosos do assunto não passem por problemas semelhantes, assinou um protocolo com o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana para que as 150 horas filmadas estejam disponíveis ao público. E chama a atenção: «Se isto fosse um livro, este filme seria apenas o índice».
O SAAL foi um projecto pioneiro de habitação social, que envolveu arquitectos e populares, embutidos do espírito revolucionário, na conquista de uma casa própria e que terminou com o 25 de Novembro. Este projecto também contribuiu para a afirmação internacional de arquitectos como Álvaro Siza, Eduardo Souto Moura, Nuno Portas, Gonçalo Byrne, Alexandre Alves Costa, Nuno Teotónio Pereira, Raul Hestnes, entre outros, que participam neste filme.
Agora João Dias divide-se entre vários projectos, como um documentário sobre o turismo internacional ou uma nova curta de ficção. Quanto ao SAAL, sente que cumpriu uma missão importante e espera que novos estudos se efectuem.

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