quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Índios & cowboys


Birdwatchers - a terra dos homens vermelhos, de Marco Bechis






É uma história de índios e cowboys. Só que aqui os cowboys são os maus da fita. Aliás sempre foram, não nas histórias, mas na História. Porque todas estas são lutas territoriais. Lá no Oeste, tal como no Brasil, os índios já lá estavam quando os homens brancos, montados a cavalo, de chapéu engraçado, esgotaram-lhes os recursos e declararam-lhes guerra. No Brasil, tal como noutros territórios achados por ocidentais, houve um autêntico genocídio, em parte porque os índios, por teimosia ou orgulho, ao contrário dos africanos, não se deixaram escravizar. Os autores do massacre começaram por ser os portugueses e os espanhóis, mas as pátrias libertadas pelos colonos prolongaram o crime contra a humanidade: o grito de Ipiranga não foi dado por nenhum guarani. A terra é índia, por legitimidade histórica.

Os problemas persistem na Amazónia descoberta por observadores de aves e de peles vermelhas. E é esse conflito actual, com ar anacrónico, que o chileno Marco Bechis retrata neste filme maior, na senda de Werner Herzog, em que faz questão de pintar a história com ares de western. Um western realista, próximo da linha do equador. Lá nos confins da Amazónia, os índios resistem como podem à aculturação dos cowboys. Mas todas as saídas se fecham. E muitos índios se branqueiam.

Birdwatchers não entra na demagogia fácil, exibe a podridão de ambos os lados, levantando as mais pertinentes questões antropológicas. Mas acaba por tomar parte, de forma clara, num apelo final à doação de fundos. Não deixa de ser uma obra original que explora de forma realista universos que nos habituámos a tomar por ficção. Mas um índio calçado não deixa de ser um índio. Ou será que sim?


Sem comentários: