quarta-feira, 8 de julho de 2009

O homem da gabardine

Bruno, de Sacha Baron Cohen




Diz-se que ele está muito à frente. Que tem uma atitude punk. Que é subversivamente provocador. Mas afinal ele é tão provocador como aqueles homens que exibem a sua nudez debaixo da gabardina, perante as mulheres que passam. Sacha Baron Cohen provoca as mesmas reacções que o homem da gabardine. Ou seja susto, sobressalto e repugnância.

Depois de Borat, Sacha encarna o homossexual Bruno que faz tudo para ser famoso. Mas mesmo tudo. Quando pensamos que ele já foi longe demais, ele avança mais um bocado. E é esta um bocado a estratégia dele, uma estratégia de progressão geométrica – quando já achávamos que vimos tudo, ele ainda tira vários coelhos da cartola. Só que são coelhos mutantes, façanhudos, obesos e grotescos.

Se é verdade que Sacha tem estas propriedades camaleónicas de se metamorfosear de um filme para outro, também é verdade que o seu trabalho de actor não passa de uma caricatura, para a qual convoca todos os tiques e todo o merchandising gay. Com a subtileza, imagine-se de um elefante em loja de porcelanas. Com objecto cinematográfico, é um não objecto, mas uma sequência de sketches misturadas com «apanhados», mais ou menos alinhavados, e alguns têm até graça.

Existem filmes que demonstram o que é o tédio, sendo entediantes. Este demonstra o que é o mau gosto, sendo de mau gosto.

Está bem, é politicamente incorrecto – que é um conceito cujo o inverso negativou. Ser politicamente correcto, essa invenção americana tornou-se odiosa. O que não quer dizer que a sua inversão seja automaticamente boa. Porque há outro conceito que ainda não foi revogado pelos desdramatizadores do mau gosto: o grosseiramente incorrecto. Mas tão inofensivo, claro, como o exibicionista da gabardine.

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