sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Palavra de produtor

Pânico em Hollywood, de Barry Levinson







No guião de Sacanas sem Lei, como factor de persuasão, de forma a obrigar o veterinário a tratar da perna da actriz alemã, Aldo desata a matar cães à pistola. Tarantino que, melhor que ninguém, conhece os truques do cinema, optou por não utilizar a violência sobre os animais no filme. Ele sabe que matar um cão no cinema é dos actos mais chocantes para o espectador. Pior do que matar ou torturar uma pessoa. Se o Tenente Aldo matasse os bichos tornar-se-ia a personagem mais odiosa, por mais popular que seja a face de Brad Pitt.
Em Pânico em Hollywood, de Barry Levinson, o ‘assassinato de um cão’ é o fio da ironia de um subtil retrato de Hollywood. Nenhum produtor em perfeito juízo aceita um filme em que um cão é cruelmente abatido, a sangue frio. E o público do screen test não tem estômago para o digerir. Que os assassinos matem Sean Penn, tudo bem, agora o cão…
Há uma certa tradição europeia de fazer filmes sobre o próprio cinema. O exemplo maior é mesmo 8 ½ (1963) de Fellinii, mas encontram-se muitos outros, em autores como Jean-Luc Godard, Nanni Moretti ou até Pedro Almodóvar. Quando os americanos o fazem é de forma distinta: o poder e os contornos financeiros da sua indústria tornam o seu mundo único. Robert Altman realizou um excelente filme sobre os meandros de Holywood, O Jogador (1992), com Tim Robbins como protagonista, e Bruce Willis a fazer de Bruce Willis. Barry Levinson segue-lhe os passos num acutilante retrato em que Sean Penn faz de Sean Penn e Bruce Willis de… Bruce Willis. Robert Di Niro é um ocupadíssimo produtor de Hollywood, que vive mais rápido que o Touareg que conduz. Ao longo de uma semana, acompanhamos o seu dia-a-dia em estado de emergência, a uma velocidade alucinante. E há uma deixa forte, na voz de Bruce Willis. «Tu és apenas um produtor. Tu és apenas a maionese numa sandes ranhosa»..
Em Hollywood os produtores têm a mania que são donos dos filmes. E o final cut é um direito que regularmente escapa das mãos dos realizadores. É o que torna ainda mais irónico este Pânico em Hollywood (péssima tradução de What Just Happened). A escolha de um realizador inglês, com sensibilidade artística, que se vê atirado à mercê deste monstros negociantes, com olhos de cifrões, pouco preocupados com autorias e opções artísticas. Constrói-se uma sátira forte, onde ninguém escapa ileso, dos caprichos dos actores à fome negocial. Quem fica melhor na fotografia é Sean Penn, um negligé assumido que acredita em causas.
Há uma intenção de denúncia de um sistema industrial que prejudica a criatividade artística. E assim se explica a inclusão no elenco de alguns dos mais contestatário actores de Hollywood, como De Niro e Sean Penn. Curiosamente, o argumento é de um famoso produtor, Art Linsom, responsável pelo Clube de Combate, Dick Tracy, Dália Negra, entre outros. Adaptou ao cinema o seu próprio livro, como quem diz, Hollywood é assim mesmo, palavra de produtor.

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