segunda-feira, 10 de março de 2008

Cortem-lhes a cabeça!

Duas irmãs, Um Rei, de Justin Chadwick

«Cortem-lhes a cabeça!», era a ordem preferida da rainha de Alice, a do País das Maravilhas. Mas até essa temperamental rainha do baralho tinha um exército de cartas com mais espessura do que esta corte de Henrique VIII, achatada pelas máquinas prensadoras da reciclagem cinematográfica. Duas Irmãs, Um Rei, de Justin Chadwick, e eis como se reduz uma época crucial da História de Inglaterra do século XVI (tantas vezes revisitada pelo cinema) a uma historieta de alcova. E o reino de Henrique VIII torna-se o reino do óbvio, do estereótipo e da banalidade televisiva. Estão lá todos os pressupostos da telenovela da hora do almoço (ainda existirá este conceito?). Há a irmã boazinha, que não por acaso é loura e angélica (Scarlett Johansson). E a irmã mazinha, Ana Bolena, ambiciosa, pérfida e morena (Natalie Portman). Também há a mulher enganada, uma Catarina de Aragão com uma verruga. Um pai e um tio gananciosos. E uma mãe irrelevante. E nem a actriz Kristin Scott Thomas consegue sustentar toda a sua prescindibilidade. Ah, também há o rei cortador de cabeças (Eric Bana), aqui na pele do monarca seduzido pelo mulherio, que lhe entra e sai, a todo o momento, dos aposentos reais. Os diálogos são desinteressantes, os enquadramentos banais, e sempre que o filme precisa de alguma acção o realizador enxerta-lhe uma cenas de galopes desenfreados, pelos rios e bosques de Inglaterra. Os actores parecem desconfortáveis naquelas personagens e naquele guarda-roupa, plastificado, pouquíssimo convincente, mas a piscar o olho aos públicos femininos – não necessariamente do sexo feminino.

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