terça-feira, 27 de outubro de 2009

O homem enquanto Deus de si próprio


Os Substitutos, de Jonathan Mostow






Todos vivemos, todos morremos, nada é para sempre. O Substitutos é uma poderosa obra de ficção científica graças, em primeiro lugar, ao novo conceito que apresenta, que inverte as teses derrotistas que julgam que depois de Matrix pouco resta a imaginar, dentro dos filmes de género. O conceito em causa n’Os Substitutos nem sequer foi criado especialmente para o filme, mas antes rebuscado de uma primorosa novela gráfica de Robert Vinditti e Brett Weldelle. Os homens servem-se de substitutos, de autómatos, para se protegerem a si próprios, mas também para melhorarem a sua performance quotidiana (para sempre novos, para sempre belos, para sempre ágeis). Tornam-se assim em Deuses de si próprios, que controlam o seu próprio destino, julgando-se imortais na máquina em que se projectam, no outro criado à sua imagem e semelhança. Deuses ateus, felizes virtualmente, fora de si, embaraçados com o seu ego, irremediavelmente humano. São entes que, em situação extrema, eventualmente se excluiriam em nome do outro, que afinal não são.

Nesta sociedade futurista, há espaço para uma contracorrente, uma população mais pobre mas não menos esclarecida, que se opõe a tal artificialidade. Um movimento de homens comandado por um profeta de palavras Sábias: “Podem esconder-se por detrás das vossas marionetas, mas não podem fugir da vossa condição humana”. Os perigos do homem quando de toma por Deus. Um engano.

À parte da elaborada concepção filosófica, que dá pano para mangas, é apreciável a forma como o conceito está bem desenvolvido no filme, dando-lhe uma roupagem de filme de acção, bem ao estilo de Bruce Willis, que é protagonista. A moral anti-tecnológica tem os seus perigos, e tanto pode ter uma leitura reaccionária quanto subversiva. Tanto mais que se sabe que o homem é incapaz de impedir o progresso, mesmo quando este serve para o auto-destruir.

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