segunda-feira, 11 de maio de 2009

Memórias de um (a)revolucionário apático

Memórias do Subdesenvolvimento, de Tomás Guttiérrez Álea








O Cineclube ABC propõe uma retrospectiva de um dos maiores cineastas cubanos de todos os tempos, Tomás Guttiérrez Álea, no Cinema São Jorge, entre 11 e 20 de Maio. O realizador é conhecido em Portugal pelos filmes Morangos e Chocolate (1993) e Guantanamera (1995), os único que tiveram estreia comercial, feitos em parceria com Juan Carlos Tabío. Mas esta retrospectiva oferece-nos a oportunidade de ver algumas das suas obras mais influentes, como Histórias da Revolução (1960, até agora inédito em Portugal) ou A Morte de um Burocrata (1966).
Todo o destaque vai para Memórias do Subdesenvolvimento (1968), a sua obra-prima. Situado em 1962, pouco depois da Revolução Socialista, retrata de forma perspicaz um país que se adapta a uma nova realidade. Centra-se na figura de Sergio, um burguês, intelectual e proprietário, tão snob que se enoja com a própria burguesia, que opta por ficar enquanto os seus familiares e congéneres fogem para América. Numa mistura entre ficção e documentário, serve de parábola sobre aqueles que não apanharam o comboio da revolução. É feito com uma liberdade imensa, onde se reconhecem influências claras do cinema europeu (Godard, Rosselini, Buñuel…). Liberdade formal e expressiva, transversal a toda a obra, que em nenhum momento se confunde com as obras panfletárias que mais tarde se fizeram em países comunistas. Recorde-se que Fidel, na pós-revolução, defendia: «Que cada um se exprima na forma mais pertinente e que exprima livremente a ideia que deseja».
Memórias do Subdesenvolvimento não é seguramente um filme pró-revolucuionário. Também não é um filme anti-revolucionário. Assim, como o protagonista, Sergio, que deambula sem encontrar o seu espaço, o filme de Gutiérrez ganha interesse pela sua ambiguidades, por uma ideia de desajuste e desamparo, pela coragem de focar os cinzentos numa altura em que tudo se queria preto no branco. Quem não está com a revolução, está contra a revolução. Afinal, Sergio, em quê que ficamos?

Cinema São Jorge, hoje, dia 11, às 21.30; amanhã, dia 12, às 18.30

Ver aqui programa completo

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei imenso do texto, mas já não consegui ver o filme. Alguém sabe se passa outra vez, nesse festival?
JMduarte