quarta-feira, 6 de maio de 2009

O futuro do passado

Star Trek, de JJ Abrams




O novo Star Treck promete deixar muitos trekkies em órbitra e os outros terráqueos indiferentes… a ver a 11.ª nave passar







A missão da nave estelar USS Enterprise da Federeção dos Planetas Unidos continua a sua intrépida missão, a explorar novas fronteiras, novas galáxias e novas receitas de bilheteira. Desde Setembro de 1966 - altura em que a série estreou na NBC americana -, que esta pobre tripulação do século XXIII, nómada e mista, vagueia pelo espaço, sem descanso, até «onde nenhum homem se tinha atrevido antes». Sujeitos a apanhar toda a espécie de poeiras cósmicas, ácaros extra-terrestres, criaturas de tentáculos e outras estranhas formas de vida...


Agora está de regresso à Terra, com uma nova sequela cinematográfica (estreia-se no dia 7 de Maio), depois de 726 episódios, seis séries televisivas, dez adaptações para o cinema, centenas de livros, BDs, desenhos animados, vídeos-jogos, um parque temático em Las Vegas. As naves movem-se mais rápido do que a luz, mas há quem garanta que também pegam de empurrão. Um planetário empurrão dado pelos milhares de fãs (chama-se trekkies), que idolatram as personagens, vestem pólos de lycra como eles, participam em convenções, debatem assuntos trekianos em fóruns na net, revêem os episódios em DVD e pronunciam as frases da praxe como «Warp speed» ou «beam me aboard»... Para eles ser trekkie é mais do que ser fã de uma ex-série que se tornou filme de culto. É todo um modo de vida.


Nunca nenhuma série do futuro teve tanto passado. Resta saber se também tem presente. Restará ainda algum compartimento no cérebro das novas gerações para se interessarem pelo velhinho star treck, sem o referencial nostálgico dos seventies? Como olharão para este filme as crianças que cresceram com o Buzz Lightyear (o astronauta do Toy Story) - «para o infinito e mais além»?


A verdade é que o entusiasmo que outrora geraram os «teletransportes» para transbordo de passageiros, ou as armas «Phaser» utilizadas pelos tripulantes não provocarão hoje, nas novas plateias, um pingo de excitação. Nos anos 70, em plena guerra fria e corrida ao espaço, a série teve o mérito de introduzir um oficial russo, Checov, e apresentar (tchan-tchan...) o primeiro beijo interracial da televisão norte-americana, quando Uhura, uma tripulante negra, se apaixona por um caucasiano.


Em Portugal (nos anos 70 e 80), a série era conhecida pela sua tradução literal, Caminho das Estrelas, e em todas os recreios do país se encarnava o capitão Kirk ou o senhor Spock - mais popular pelo formato das orelhas do que pela sua personalidade. A aposta do novo filme é combinar os efeitos especiais do presente (realização de J.J. Abrams) com as privates jokes do passado. E isso resulta sempre. Mais do que conhecer nova aventuras, os fãs querem reconhecer...


E o novo Star Treck tem imensa acção inter-espacial, vilões tatuados e com défice capilar. Tem também alguns monstros: uma espécie de lobos e dinossauros do gelo, só que com uma ventosas de lampreia. Também há uma cena de sexo com uma marciana (uma rapariga toda verde, mas sem antenas), e um capitão Kirk (agora louro), muito trouble maker, que passa o filme, literalmente, a levar pancada. Há muito «teletransporte», lutas, contagens decrescentes, naves a explodir, tripulações evacuadas... E sobretudo há o senhor Spock. Mais do que isso: há três Spoks (quatro se contarmos com a cabecinha holográfica e flutuante). Um deles protagonizado pelo original Leonard Nimoy, o actor quase octogenário, que não mais conseguiu despir aquela personagem e as orelhas de gnomo. Um dos Spocks, se calhar não entra na contabilidade porque é o pai, e os outros dois, o spock avôzinho e o Spock novo contam como um, porque no espaço acontecem estes cruzamentos no tempo. Perceberam? Também não dá para explicar por falta de... espaço.

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