terça-feira, 6 de outubro de 2009

O último Mon Chéri

Chéri, de Stephen Frears







Há um filme de Woody Allen (o Annie Hall?) em que o realizador faz as suas habituais incursões reflexivas pelas ruas de Nova Iorque, enquanto vai interpelando transeuntes acerca das grandes questões filosóficas da vida. Então pára ao pé de um casal que passa abraçado, e pergunta-lhes qual é o segredo para a relação deles, como é que eles conseguem manter-se juntos e serem felizes. Eles respondem, é fácil, somos completamente desinteressantes, e ocos, e não temos nada para dizer um ao outro...

O casal de Chéri, o novo filme de Stephen Frears, é como esta dupla passante do filme de Allen. Dificilmente se encontraria um par tão insípido e desinteressante. O pior não é não terem nada para dizer um ao outro. O pior é não terem nada para nos dizer a nós, espectadores.

O filme leva-nos até à Belle Époque parisiense onde há uma série de ex-cortesãs, que vivem sumptuosamente. Todas ficaram ricas, gordas e decadentes, excepto Michelle Pfiffer, que ficou rica, elegante e lindíssima. Ela mantém um namoro muito deslavado com o filho de outra ex-cortesã (Kathy Bates), que é tão desconsolado na maneira como começa, como na maneira como acaba. Dá ideia de que não tinham mais nada que fazer e pronto...

Não há um pingo de paixão nem de arrebatamento neste romance, não fosse o facto dela ter mais uns trinta anos do que o rapaz. O rapaz que se chama Chéri é o seu último Mon Chéri, como o bonbom do anúncio.

E assim toda a premissa do filme (baseado num livro de época da escritora francesa Colette) anda a rondar voyeuristicamente o tema ‘as rugas de Michelle Pfiffer’, ou ‘o grau de conservamento da actriz’, ou ‘o quanto ela ainda consegue competir com uma actriz de 20 anos’... Às tantas, parece um anúncio a um cosmético, acompanhado da música de Variações, cantado pela Manuel Azevedo dos Clã, «rugas, já começo a ter as primeiras rugas...». A existência de um narrador intrusivo (o próprio Frears) em off também não ajuda...

Aliás, todo o filme é um exercício cosmético. A história, as personagens parecem completamente acessórias face àquilo que Frears verdadeiramente quer mostrar, que é todo aquele festival Arte Nova, do décor, das roupas, das varandas, da cama, das jóias, das decoração de interiores... Chéri deita uma piscadela muito pouco subtil ao Óscar de Melhor Guarda Roupa. Michelle Pfiffer passeia-se com inúmeros modelos, numa orgia de fitas, cetins, rendas e chapéus... para encher o olho às sensibilidades mais femininas (não necessariamente do sexo feminino). E depois, além de vestidos luxuriantes, também há jardins luxuriantes, árvores, e estufas. E vários clichés enjoativamente batidos. Como a insistência do realizador nas pérolas, que são tanto mais valiosas, quanto mais pesadas e mais velhas, pois vão acumulando camada após camada de madrepérola: pois. Ou o da rosa madura de finas pétalas, que se esboroam nas mãos até deixar só um caroço ressequido: pois outra vez.

A léguas de outros filmes de Frears como Ligações Perigosas ou A Rainha, Chéri é o grande filme souflée desta estação Outono Inverno. Só não surpreende quando desincha.

1 comentário:

Ladislau disse...

O filme que eu gosto mais do Frears é o Puto: is that a turkey or a baby? Mas este outro puto não me convence... Se o Final Cut diz que não é bom vou ver outra coisa, talvez as Vampiras Lésbicas (para quando a crítica?)