quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O gosto de Miguel Ángel Barroso

Bilbao, de Bigas Luna

Numa altura em que decorre o X Imago, no Fundão (até dia 4), pedimos ao curador do programa dedicada ao sexo, o espanhol Miguel Ángel Barroso, que escolhesse e comentasse uma cena de um filme presente no festival. O crítico de cinema espanhol, autor de uma extensa bibliografia dedicada aos mais variados géneros, optou por uma sequência de Bilbao, considerado para muitos a obra-prima de Bigas Luna. Mas atenção: as imagens reproduzidas poderão ferir a sensibilidade de alguns visitantes




Deste fascinante filme espanhol, a segunda longa-metragem do inclassificável cineasta Bigas Luna, escolho a larga sequência em que Leo, o protagonista, prepara minuciosamente a sua noite de amor com Bilbao, uma bela prostituta do bairro chinês de Barcelona: dá-se finalmente a resolução com seu objecto de desejo. Para Leo, significa a esperada noite de núpcias com aquela mulher que se torna a sua companheira sentimental. Depois do sequestro, Leo convive com ela à sua maneira: uma mente insana e obsessiva (a mania da higiene oral leva-o a lavar os dentes constantemente), que se concretiza atando-lhe os pés e as mãos em cruz e suspendendo-a no ar com a ajuda de cordas. Bilbao está sempre sob os efeitos do cloroformo. De seguida, sentam-se juntos a ver filmes pornográficos, num projector Super 8. Para Leo está tudo bem, está em ordem o seu mundo particular, já se sente isolado do resto mundo. Leo dá-lhe a mão, olha-a com ternura, acaricia-he o cabelo: é a sua Bilbao, a mulher que ama com uma loucura quase adolescente, sentindo-se (na sua mente perturbada) totalmente correspondido.

Bilbao deve considerar-se assim uma história de amor trágica. Uma história de amor diferente e original. Contudo também se deve ver de uma perspectiva romântica e terna devido ao carácter tímido do protagonista. A prova disso está na desolação de Leo quando descobre que Bilbao está morta por um descuido seu. Não se perdoa e chora amargamente, desesperadamente, infantilmente. Mas Bigas Luna sente pena dele e oferece-lhe o prazer de continuar a recordá-la para sempre, como a coisa mais importante da sua existência. Porventura Leo aprendeu assim a amar pela primeira vez na vida...

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