Durante os 90 minutos desta película, não aparece uma única mulher. Nem como secundária, nem como figurante, nem sequer a passar distraidamente em plano de fundo. É um filme de homens num mundo de homens. De imigrantes, operários e muçulmanos. Onde tudo se mistura como faces concorrentes da mesma luta: religião e relação patronais. Não há Satã. Não há infiéis. O filme passa-se numa extraordinária comunidade árabe algures perdida em França, que é, acima de tudo, uma comunidade laboral. Parece enquadrar-se na tendência, apontada em O Segredo de um Cuscuz, para dar voz à larga comunidade árabe em França. Para espreitar pelo buraco da fechadura e descobrir este mundo que nos é particularmente estranho. Só que radicaliza o conceito, abolindo todos os franceses, e deixando de parte as questões de integração. Ali está tudo perfeitamente integrado, aquela fábrica é uma colónia islamita, e desenquadrados estão aqueles que ainda não se converteram. O chefe constrói uma mesquita, com o duplo objectivo de chegar ao paraíso e manter a concertação social com os seus trabalhadores. Mas a luta de classes é inevitável. E não se pode servir dois deuses ao mesmo tempo.
Sexta, 1, 18 às 30, Cinema Londres 1
2 comentários:
Gostaria de ser aconselhado pelos críticos do Final Cut, isto é: tenho que escolher entre dois filmes que vão dar à mesma hora no indie e gostaria da opinião de um profissional, o que devo ver, este Dernier Marquis ou o Ballast?
Caro Ricardo,
Segundo sei o Dernier Maquis já tem os direitos comprados e irá estrear-se em sala. Assim, sugiro o Ballast, porque mais dificilmente terá a oportunidade ver o filme numa outra ocasião.
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