quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O último dia do resto da vida dele

Um homem solteiro, de Tom Ford







Parece que George Falconer (Colin Firth) um professor de inglês emigrado na Califórnia anda muito desgostoso. Parece... mas ele não mostra muito, porque além de ser um gentleman britânico, tem um extremo bom gosto e não gosta de exteriorizar os sentimentos. Parece que perdeu o seu companheiro de longa data, num acidente, e isso torna-o uma espécie de viúvo sem direito a assistir ao funeral (a causa gay). Parece também que vive numa casa fantástica, que tinha dois cães amorosos, gosta de manter tudo muito arrumadinho. Parece que tem um emprego agradável, e é apreciado pelos alunos. Parece que tem uma amiga muito solícita (Julliane Moore) que gosta de gin e de lhe fazer festinhas no cabelo. Parece que não gosta de espalhafato por isso prepara metodicamente o seu suicídio... Parece que encena tão bem o seu último acto que até lhe passa pela cabeça se a mancha de sangue combinará com o tapete do quarto. Parece...

Parece, e é esse o problema do primeiro filme do estilista Tom Ford, ex-diretor artístico das marcas Gucci e Yves Saint Laurent. Tudo se fica pelo «parece», nada é. As personagens estão tão perfeitamente encaixadinhas no cenário, na maquilhagemm nos penteados e nos figurinos, que não conseguem deixar que alguma emoção ou alguma físico-química entre os actores desalinhe a composição e a estética anos 60, que já vimos dezenas de vezes no cinema. Um Homem Solteiro parece – lá está – um luxuoso anúncio publicitário, com uma vaga e desinvestida história de desgosto amoroso homossexual lá dentro. Tudo parece artificial, pretencioso e estilizado. Cheio de flashbacks que estão lá mais para compor esteticamente a imagem do que por necessidade narrativa. E além do mais, é um filme demasiado arrumado para um homem que supostamente estaria a desfazer-se aos bocados. Mais um destes filmes que só tem parte de fora, falta-lhes a parte de dentro.

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