quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Eric, o carteiro de Cantona


O meu amigo Eric, de Ken Loach






A ameaça foi feita em 2005. Na curta-metragem, o filme-anedota que Ken Loach realizou para Cannes revelou um sarcasmo terrífico. O próprio Ken Loach aparecia com o filho na fila da bilheteira do cinema. Perante o crescente desespero do resto dos espectadores, vão analisando com entusiasmo as propostas da sala: um filme de acção, um de aventuras, uma comédia, uma animação. Até que Loach sugere: «E se fôssemos ao futebol?» Dito e feito.
Em À Procura de Eric, Loach faz precisamente o contrário: leva hooligans ao cinema. Para tal conta com o próprio Eric Cantona, para quem não sabe, um francês que foi a maior estrela do clube inglês na era pré-Cristiano Ronaldo. O registo só não surpreende mais porque já vimos Quem Quer Ser John Malckovitch, de Spike Jonze, mas não deixa de ser uma obra original num realizador de exibições irregulares. Aqui não fica fora-de-jogo.
Já se sabe que os ingleses acreditam em fantasmas, mas este tem um feitio peculiar, que torna o filme tão disparatado que até tem graça. O Meu Amigo Eric, é a história de um carteiro de Manchester, cuja vida está feita em cacos. Começa a ter alucinações, e aparece-lhe então o lendário jogado de futebol do United… para lhe dar conselhos. Aquele que se tornou famoso também por ser intempestivo e por, certa vez, ter dado um pontapé na cara de um adepto, torna-se assim num conselheiro… sentimental, entre outros. Talvez funcione por ser francês e lhe responder muitas vezes com provérbios… em francês. De forma mais ou menos criativa e anímica, o fantasma de Cantona faz com que Eric recomponha a sua vida e ganhe um novo fôlego.
Não é propriamente a estreia de Eric Cantona no cinema, depois de ter arrumado as botas, o jogador de gola levantada aventurou-se pelo mundo do cinema, em oportunidades fugazes, como em Elizabeth, de Shekhar Kapur. E até tem jeito. Aqui representa-se tão bem a si próprio como Catherine Deneuve em Eu quero ver. Do filme, poder-se-iam tirar alguma ilações simplistas sobre o socialismo ou lições baratas de filosofia de vida, mas na verdade serve apenas para dar umas boas gargalhadas. O que não é pouco. E, que fique claro: nada tem a ver com O Carteiro de Pablo Neruda.

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