quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A importância de se chamar Brillante

Ciclo Brillante Mendoza na Culturgest





Antes de o ser já o era, é o que se diz da pescada. E numa espécie de pescadinha de rabo na boca se pode dizer o mesmo do brilhante Brillante Mendoza, o realizador filipino, um dos homens de que mais se fala no cinema contemporâneo, que não tem culpa de se chamar assim, mas que o nome até lhe calha bem. Não que o brilho seja uma característica do seu cinema. É um realizador marginal que gosta de ambientes sujos. Dir-se-ia mesmo que tem um olhar sujo sobre o cinema, despido de artificialismo, com um estilo de ficção quase documental, talvez parecido com algum do novo cinema romeno, mas com excentricidade oriental de um dos países-arquipélagos mais fascinantes do mundo.

Esta retrospectiva que a Zero em Comportamento (organizadora do Indie Lisboa) leva à Culturgest, a mais completa que já foi feita, mostra oito longas de Brillante. O realizador começou tarde, apenas aos 40 anos desistiu da publicidade para se dedicar ao cinema, mas é de uma proficuidade espantosa. Só em 2009 lançou dois filmes. São precisamente as últimas obras que têm dado mais que falar, e que lhe valeram com toda a justiça o estatuto de revelação da década concedido pelos Cahiers du Cinema.

Serbis, ou Serviço, é o mais sujo dos seus filmes, tem um cheiro nauseabundo que nos faz agradecer que o olfacto no cinema só seja activado por sugestão. O cenário é uma sala de cinema pornográfico nas Filipinas onde se dão encontros sexuais. Tudo é focado entre o repugnante e o caricato, numa hábil gestão choque. Lola, o seu primeiro filme do ano passado, abranda os costumes, apesar do contexto trágico. O jovem morre e outro é preso. A gestão dos dramas fica a cargo das avós, entre os afectos e os valores. Kinatay, a sua última obra, repercute a violência de Manila através do brutal rapto de uma mulher.

Bendita esta retrospectiva que nos permite ver o carisma bruto, seco e refrescante de um dos melhores realizadores da actualidade, que faz jus aos bons ares asiáticos também trazidos por Kim Ki-Duk, Takeshi Kitano, entre tantos outros. Pena é que estas obras não tenham por cá a justificada exibição comercial.

PROGRAMAÇÃO (tirada do site da Culturgest)

QUARTA-FEIRA 20

21H30

Lola, Filipinas/França, 2009, 1h50, versão original com legendas em português e inglês

Duas anciãs. Uma perdeu o neto, a outra é a avó do assassino. Cada uma delas é obrigada a lidar com a trágica ocorrência para tentar prosseguir com a sua vida.

QUINTA-FEIRA 21

18H30

Masahista, Filipinas, 2005, 1h20, versão original com legendas em português e inglês

Iliac é um jovem massagista com uma clientela predominantemente gay. No salão de massagem, o sexo é um elemento sempre presente nas relações entre os funcionários e os seus clientes.

21H30

Manoro, Filipinas, 2006, 1h15, versão original com legendas em português e inglês

Numa remota comunidade situada nas montanhas vulcânicas das Filipinas, uma jovem professora ensina adultos e idosos a ler e a escrever para poderem participar nas eleições presidenciais que se aproximam.

SEXTA-FEIRA 22

18H30

Kaleldo, Filipinas, 2006, 1h30, versão original com legendas em português e inglês

Numa família marcada pela figura de um pai autoritário e conservador, três irmãs procuram conquistar a sua autonomia enquanto jovens adultas, entrando em choque com a tradição familiar e religiosa.

21H30

John John, Filipinas, 2007, 1h38, versão original com legendas em português e francês

Num bairro-de-lata de Manila, uma mulher é contratada para tomar conta de órfãos a aguardar adopção. O pequeno John John é deixado aos seus cuidados.

SÁBADO 23

16H00

Tirador, Filipinas, 2007, 1h26, versão original com legendas em português e inglês

Num bairro comercial de Manila, jovens delinquentes procuram fazer pela vida. À sua volta, os restantes moradores lidam com as dificuldades de mais um dia no quotidiano febril da capital filipina.

18H30

Serbis, Filipinas, 2008, 1h34, versão original com legendas em português e inglês

A família Pinela dirige e habita um cinema pornográfico no centro de Manila que já conheceu melhores dias. Enquanto decorre a actividade diária das sessões, espectadores, prostitutas e elementos da família cruzam-se nos corredores e átrios do cinema.

21H30

Kinatay, Filipinas, 2009, 1h50, versão original com legendas em português e inglês

Um jovem formando da academia de polícia tenta melhorar a sua situação financeira, trabalhando como segurança privado em negócios duvidosos. Acaba implicado num ajuste de contas envolvendo uma prostituta.


Masterclass

SEXTA-FEIRA 22, 15H00

ENTRADA GRATUITA

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