sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

As três dimensões de Brillante

Encontro imediático com Brillante Mendoza





Começou tarde, mas agora não quer perder tempo. Só em 2009, o filipino Brillante Mendoza realizou dois filmes. Em conversa ele falou-nos das histórias que quer contar e da tridimensionalidade dos seus filmes.Ouvir aqui a entrevista no site do JL


Até que ponto é que o seu cinema pode funcionar como espelho da realidade filipina?

Fui muito criticado pelo público por mostrar demasiado o lado real das Filipinas. Na maior parte dos filmes feitos no meus país não se faz isso. Contam-se histórias ao estilo de Hollywood que não reflectem o que realmente se passa. O que eu mostro não é de uma forma negativa, mas sim verdadeira e humana. Não temos que ter vergonha disso, de exibir a nossa realidade. Muitos dos meus filmes são baseados em histórias verídicas.

Os seus filmes situam-se a meio caminho entre a ficção e o documentário, sobretudo pela forma como filma e capta a realidade…

Consegue-se obter melhor a sensação do que é a vida real filmando de um modo menos clássico.

Há um público para este tipo de filmes nas Filipinas?

Na verdade, não. Há um cinema independente desde os anos 60, mas pouca gente a vê-lo. Hoje em dia, consegue-se sentir a presença de uma onda de cinema alternativo, o que é necessário é familiarizar o público com este tipo de filmes.

Então, como é que se financia?

É preciso encontrar os produtores e os patrocinadores certos. Há sempre uma forma de acabar um filme. Nos meus últimos trabalhos tive a sorte de encontrar um produtor francês, como quem me dou muito bem, o que me dá uma certa segurança.

Começou por trabalhar em publicidade, mas os seus filmes estão muito distante desse formato… Agora está a dizer: não comprem isto!

Na publicidade somos vendedores, no cinema não estou a tentar convencer ninguém, apenas a contar uma história de uma forma honesta. Por isso torna-se fácil separar estes dois mundos.

Trabalha muito depressa. Em 2009 fez dois filmes, nem Manoel de Oliveira é tão rápido. Como é que consegue?

É um processo contínuo. Estou sempre a trabalhar nas histórias. Neste momento tenho três ou quatro na minha cabeça e pessoas a fazer pesquisas sobre elas. É uma questão de timing, e de combinar com o produtor qual é a história que se deve avançar primeiro.

Pensa vir a fazer um filme fora das Filipinas?

Sim, ponho essa hipóteses, mas teria de me ambientar ao local. Não poderia chegar ao Portugal e fazer logo assim um filme com um produtor português. Seria um processo longo, precisaria da algum tempo, sobretudo para compreender as pessoas.

Não pensa que parte do interesse que os europeus têm mostrado pela sua obra se deve a um certo gosto exótico, e que tal se perderia caso fizesse um filme na Europa?

É verdade que um dos motivos que leva a que gostem dos meus filmes na Europa é a curiosidade por uma cultura diferente. Mas eu também tenho curiosidade pelas outras culturas. Além disso, em Portugal, por exemplo, há bastantes filipinos. Eu poderia integrá-los no meu cinema.

Os seus filmes são tão realistas que, às vezes, podemos cheirá-los. Não são apenas feitos para os olhos, pois não?

Isso é intencional, para mim ver o filme é uma experiência completa, uma experiência tridimensional, que dê a ideia de que se está lá.

Quantos filmes pretende fazer em 2010?

[Risos] Não sei, estou a fazer um documentário e a desenvolver duas histórias, mas não tenho a certeza do que vai ficar pronto este ano. É tudo um work-in-progress.

Sem comentários: