sexta-feira, 20 de novembro de 2009

«Pedro é demasiado único»

Performer, cantora e actriz francesa, Jeanne Balibar é também a voz que tenta mais uma vez. Entrevista com a protagonista do novo filme de Pedro Costa.



Em Ne change Rien, ela é um vulto, na penumbra. Não é Jeanne Balibar que canta, é a sua sombra, e a sombra da sua mão. E quando pára de cantar, parece que os silêncios ainda lhe pertencem. Deixa um rasto, de luz e obscuridade. Como o gato mudo que, a certa altura, comparece nos ensaios.

Sentiu-se uma espécie de musa ou de inspiração, para que Pedro Costa pudesse jogar com as sombras, a luz e a música? Foi mais actriz, cantora ou performer?
JEANNE BALIBAR: Fui um pouco tudo isso. Entre nós existe uma de amizade e uma proximidade artística. Conhecemo-nos num festival de cinema, enquanto membros de um júri, e ele sentiu vontade de seguir o meu trabalho.

Parece-lhe que este filme é um musical?
O realizador fez o seu próprio CD com a nossa música, mas também construiu os ambientes e a história que quis contar. A história algo secreta desta mulher e dos seus músicos e daquele ambiente de ensaio

Ensaiam sempre às escuras?
Não. Aquela é a luz natural, a câmara de Costa e a falta de iluminação de cinema produz essa ilusão de óptica.

Que tipo de indicações lhe dava o realizador?
Nenhuma. Ele é que mudava de posição em função do que queria fazer. O Pedro é demasiado único, não tem nada de comparável com os outros realizadores

Na sua opinião este é um filme sobre si, sobre a música, sobre a ideia de se ser cantora, sobre o processo em si?
Todas as quatro ao mesmo tempo. É um filme sobre a música e sobre o trabalho que está por detrás. Nesse sentido, é um filme sobre um corpo e uma voz que é a minha. E a relação entre eles. É um filme sobre alguém que tenta qualquer coisa. O Pedro constrói esta personagem que tenta, que ensaia... Ele privilegiou os momentos de falhanço. Suponho porque o importante para ele seja o processo de tentar, mais do que o chegar lá.

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