quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Qual é o teu género?

Crime, humor e amor - no seminário Genre, com Robert Mckee





Já substituiu as pancadas de Moliére: antes do espectáculo, há uma advertência gravada, que pede o favor, aos espectadores, de desligarem os seus telemóveis. Robert Mckee, «o» especialista em guiões americano, é um «old fashioned guy». No Teatro Aberto, em Lisboa, onde durante três dias deu um seminário de 36 horas, também há uma espécie de preludio preventivo de interrupções electrónicas. Só que não é gravada, nem tem o «por favor». E soa mais a ameaça do que um pedido. Já o ano passado, durante o seminário Story Mckee tinha aberto as hostilidades com sarcasmo e encerrado com emoção. Desta vez, durante o seminário Genre, também exige pontualidade aos participantes «porque só os amadores chegam tarde, isto é para profissionais e eu não admito que amadores me perturbem a mim e à minha concentração». Os retardatários terão de aguardar duas horas no lobby, pelo próximo break e quem deixar o telemóvel tocar terá de lhe pagar dez euros «além do embaraço público de vir aqui até ao palco». E se alguém na assistência vir alguém a digitar SMS que acusem o trangressor: ele pagará dez euros por denúncia, ironiza. Não é feitio, é mesmo género. E é por causa disso, que estaremos fechados numa sala sem luz do dia durante 12 horas, das 9 às 21: «You will survive». No primeiro dia Mckee disseca, como quem anatomiza um cadáver, as convenções de género. E a metáfora não é forçada porque o thriller e as histórias de crime são primeiro género cinematográfico, com o filme Seven, de David Fincher. Seguiu-se a comédia, com Um Peixe Chamado Vanda, e as histórias de amor, com As Pontes de Madison County, de Clint Eastwood. Os filmes talvez não sustentassem uma análise à lupa, sequência por sequência, mas ainda assim é um luxo ouvir Mckee. E as suas considerações sobre o mal, o amor e a vida em geral. Ficamos a saber imensas «rabi-jokes» e «geni-jokes», que ele não gosta muito de pessoas, «prefere personagens», que tem umas teorias originas sobre sado-masoquismo, que a sua mulher usa soutien nº32B, que os westerns são fascistas e que gosta de vir a Lisboa «porque vocês parecem normais. Quando saímos do aeroporto nos EUA, até nos dói os olhos, os americanos são as mais horrendas e gordas criaturas». Makee anda pelo mundo a fazer estas preleccções, mas o único país em que o faz sem necessidade de tradução simultânea é em Portugal. E acha isso «the most amazing thing». Numa das sessões as legendas em português dos filmes foram substituídas por legendas em inglês, a pedido de alguém da assistência (!!!). Mckee ainda não foi apresentado ao servilismo português. De resto, continua a pregar que as três coisas mais importantes num filme são: «A história, a história e a história». E a não demonstrar a mínima indulgência para com filmes como Driving Miss Daisy. A propósito, diz, sabem que o Spike Lee está a pensar fazer uma sequela. Vai chamar-lhe «Let the old bitch walk»...

PS: Vejam acima o excerto do filme Inadaptado, de Spike Jonze e argumento dos Kaufman. É que ele é mesmo assim... Só que agora mais velho, mais elegante mas com o mesmo e proverbial mau feitio (um pouco atenuada, ainda assim, se comparado com o seminário Story, do ano passado)

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