terça-feira, 3 de novembro de 2009

Encontro imediático com Rui Simões

As Ruas da Amargura, que estreou há dois anos, no DocLisboa, chega agora às salas.



A biografia no site de Rui Simões acaba abruptamente em 1974, depois de se ter exilado em França e na Bélgica, com a frase «Regressa a Portugal». Ponto. «O que é que quer? Este é um país de encalhados.» A partir daí, diz o cineasta Rui Simões, 64 anos, «não há mais história.
A minha vida tem sido assim, com altos e baixos, às vezes filmo, outras não».
E 30 anos depois dos seus referenciais documentários Bom Povo Português e Deus, Pátria, Autoridade, sobre os tempos do PREC, o realizador regressa com Ruas da Amargura, em competição no DocLisboa.
Depois de ter andado tantos anos a filmar teatro e dança, volta aos palcos reais do País. Porquê este regresso, ou porquê este intervalo? Foram circunstâncias da vida, que não dependem de mim. O que eu queria era fazer ficção mas nunca consegui financiamento, continuo a concorrer aos subsídios do ICA, nos concurso das Primeiras Obras... Para poder ter contacto com actores e bailarinos liguei-me cinematograficamente a esses ambientes, à Olga Roriz e ao Bando. Não houve financiamentos nem encomendas, e, durante dez anos, acompanhei a Olga por puro diletantismo. Apeteceu-me fazer e fiz. Ainda bem, porque eram momentos que se perderiam para sempre.

Qual o lado destas «ruas da amargura» que mais o interessou, o lado dos sem-abrigo ou o dos voluntários?
O projecto já tem dez anos. Apresentei-o sistematicamente a concurso entre 2002 e 2007. Interessava-me, em especial, o ponto de encontro entre estes dois grupos.
E o que daí podia resultar. Claro que os sem-abrigo, por causa das suas personalidades e contradições, vão crescendo dentro do filme...

Quase se arriscaria dizer que um dos personagens, o Fernando Moedas, toma conta do filme...
Sim, ele ganha um protagonismo especial.
É um alcoólico em estado grave e os alcoólicos são muito fortes enquanto personagens, não sei explicar porquê...

Há um momento particularmente surpreendente, em que ele começa a cantar Charles Aznavour...
Ele entregou-se muito ao filme, e a nossa relação foi crescendo. Este é um tema muito espectacular, eles vivem em situações-limite, de certa maneira fui obrigado a não mostrar tudo...

Mas acaba por mostrá-lo, num momento de intimidade, nu, a tomar banho...
Mas isso não é um momento degradante.
É bonito mostrar ao público que estas pessoas, apesar de tudo, não se abandonam totalmente.

Sem comentários: