segunda-feira, 27 de julho de 2009

Exultai! Rejubilai!

A Felicidade, de Jorge Silva Melo






Felicidade é a cidade pequenina, cantada pela voz de Simone. «É uma casinha, é uma colina, qualquer lugar que se ilumina» Mas também é a missa Exultate Jubilate, de Mozart, interpretada pela diva Teresa Stich-Randall, que enche de plenitude as almas de todos os tempos, em todos os lugares.

Felicidade é um momento. Pode durar menos de dez minutos, o tempo de uma travessia na marginal da linha, quando o mar está azul. O tempo de uma corrida de um tipo novo cheio de saúde que salta obstáculos, e faz parkour. O tempo de uma aceleração. O tempo de uma das quatro partes desta composição de Mozart. O tempo de uma viagem até ao hospital. O tempo de uma curta-metragem.

A Felicidade é a curta de Jorge Silva Melo, que estreou há uns anos em Vila do Conde e agora exibe-se, como complemento de As Praias de Agnés, no cinema City Alvalade.

A felicidade passa num sopro. Esta curta protagonizada por Fernando Lopes (que se fartou de ganhar prémios de interpretação em festivais) também passa por nós num sopro.

Um velho pai (Lopes) vai num carro, conduzido pelo filho. Atravessam a marginal de Oeiras, com o sol, o mar e a Stich- Randall a dar na rádio. Depois há o olhar de Lopes pela janela. E o contra-campo do mundo lá de fora que vibra, de saúde, corridas e energias, e o Exultate Jubilate da Randall, por breves momentos, dá lugar a uma música mais mundana. Porque a divina Randall já se eleva alguns metros acima da superfície terrestre. E voltamos ao interior do carro, aquela cápsula do tempo, onde o relógio parece ter suspendido a sua contagem no olhar enternecido de um pai sobre o filho que trauteia a música em latim, «exultate jubilate». O gosto ficou-lhe por herança paterna. Se ele se for alguma coisa deixou: este legado musical.


A viagem chega ao fim, a outros destinos menos felizes. O filho deixa o pai no hospital Santa Maria, com o saquinho dos exames nas mãos. A imagem dele reflectida no espelho retrovisor. A felicidade é um momento. E ele teve o seu momento.

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