sexta-feira, 10 de julho de 2009

Destino marcado


Em O Destino do Sr. Sousa, Luís Miguel Cintra contracena com Rita Blanco. Um luxo numa curta de um jovem realizador que, nos tempos livres, é professor de filosofia (ou será ao contrário?) O Final Cut entrevistou João Constâncio.

FINAL CUT: O Destino do Sr. Sousa tem um elenco de luxo. Como conseguiste convencer toda esta gente?

JOÃO CONSTÂNCIO: Charme… (risos) Gostaram do guião. Já tinha trabalhado com a Rita Loureiro e a Sofia Marques. O Luís Miguel e a Rita Blanco entusiasmaram-se apesar do orçamento não ser muito elevado.

Como é que um jovem realizador dirige Luís Miguel Cintra?

Senti essa instabilidade antes de começarmos a trabalhar. Mas durante a rodagem liberto-me dessas coisas e não fico a pensar se aquele é o Luís Miguel Cintra ou outro actor. Trabalhar com ele foi a coisa mais fácil do mundo. Ele é de uma generosidade incrível. Estava disposto a fazer tudo o que lhe pedia. Usámos um método de trabalho especial. Em vez de ensaiar muitas vezes a cena, discutimos a fundo a personagem, fizemos um grande trabalho de análise, para que ele entendesse bem a personagem. A partir daí só tive que fazer um ou outro ajuste durante a rodagem. Correu muito bem. Ele é um grande actor.

O filme está cheio de ironia. Há um padre que, às portas da morte, se arrepende de não ter pecado. E há uma expectativa da morte dessa personagem, mas quem adoece e padece de forma subtil é a mulher, interpretada por Rita Blanco. Tudo isto existia no conto de Simenon?

O conto é muito pequeno. Uma diferença significativa é que, na história do Simenon, a personagem não é um padre, mas sim um alfarrabista celibatário. Pareceu-me que a personagem não faria muito sentido hoje. A ideia base é de alguém que chegou à conclusão de que a sua vida no seu todo, até a o momento em que a encontramos, foi vazia de sentido. Então, há uma reacção da personagem.

Porque apresentaste duas versões do filme?

Por uma razão prática. O filme tinha 35 minutos e a maioria dos festivais não aceitam filme com mais de meia hora. Então cortámos um pouco do filme e resolvemos testar a nova versão em Vila do Conde. Para ser sincero, prefiro a versão mais longa.

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