terça-feira, 19 de maio de 2009

SAALgadas Recordações

As Operações SAAL, de João Dias







Foi, porventura, o período da história portuguesa em que mais se conjugaram verbos na primeira pessoa do plural. No caso do documentário As Operações Saal, de João Dias, o verbo era mesmo «Construir». Aquele que se tornou um «documentário-fenómeno» - em apenas uma semana de exibição esgotou várias sessões e atingiu rapidamente os mil espectadores - retorna ao PREC, altura em que Nuno Portas, então secretário de Estado do II Governo Provisório, lançou um programa de promoção habitacional, para fazer face aos bairros de lata herdados do velho Estado Novo. O processo rapidamente degenerou (ou regenerou, consoante as perspectivas) para a auto-construção, caótica e desgovernada por um lado, mas absolutamente solidária e empenhada. E é isto que de essencial mostra o filme de João Dias. Uma consciência colectiva que se ergue ao ritmo das paredes. Um povo que cresce e acredita ser capaz - e isso já não ficou assim tão cimentado, como as construções planeadas pelos nossos mais célebres nomes da arquitectura: Siza, Souto Moura, Gonçalo Byrne, entre muitos outros... Muito mais do que a mera colagem de depoimentos e imagens de época, João Dias vai juntando os tijolos com imensa contenção e perícia até começarmos a vislumbrar o edifício e depois o bairro... E sobretudo esta gente que foi «operária em construção», e também «Índios da Meia Praia», como cantou Zeca Afonso.

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