sexta-feira, 29 de maio de 2009

Este livro dava um filme: Memorial do Convento

José Saramago costuma dizer que não cede os direitos dos seus livros para adaptações cinematográficas porque não gosta de ver a cara das suas personagens. Abriu apenas duas excepções. Para George Sluizer, com A Jangada de Pedra – uma adaptação desastrosa. E para Fernando Meirelles, com Ensaio Sobre a Cegueira, recentemente em exibição, com opiniões muito divididas sobre o resultado (a equipa do Final Cut gostou). Para já não abriu mão de Memorial do Convento, o seu romance mais querido e mais lido pelo público português. O livro foi adaptado ao teatro por Miguel Real e Filomena Oliveira, à ópera e, certamente, já recebeu várias propostas para uma adaptação cinematográfica. Para já Saramago não abriu mão.
Mas numa inócua especulação podemos perguntar: e se a proposta viesse de Oliveira, será que Saramago resistiria? É provável que sim, até porque os criadores vêm de quadrantes opostos. E se viesse de Pedro Costa? E se fosse a primeira longa metragem de João «Palma de Ouro» Salaviza?
E, já agora, quem faria de Blimunda? Beatriz Batarda? Ana Moreira? Catarina Wallenstien? E Baltazar? Quem daria um bom Baltazar? Ricardo Trêpa? Nuno Lopes? Ou o jovem Tomás Alves?
E, tratando-se de um filme português, que papel teria Nicolau Breyner?
Uma coisa é certa (e até curiosa): os e-leitores do Final Cut prefeririam ver uma adaptação de Memorial do Convento ao cinema do que a de clássicos mais consagrados pelo tempo. A vitória do livro de Saramago foi convincente, com 26 % dos votos. Seguiu-se, a alguma distância, Os Maias, de Eça de Queirós (12 %), e, num surpreendente terceiro lugar, Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano (10 %). Os Lusíadas, que é o clássico dos clássicos, apenas 5 % desejaram vê-lo em filme. Pior ficou Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro, talvez por o livro não ter fim... O que é pena, porque aquele começo (“Menina e moça saí eu de casa dos meus pais”) promete um grande filme on the road, bem ao estilo do Miguel Gomes.

1 comentário:

Júlio Moniz disse...

Eu deixo uma sugestão aos cineastas portugueses: fazer um filme só com nicolaus bryeners: ele a fazer, ao mesmo tempo de galã, de mulher loura, de vilão, de polícia, de ladrão...