segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A vitória dos sapos

A Princesa e o Sapo, de Ron Clements e John Musker





A Princesa e o Sapo é um clássico instantâneo da Disney, à moda dos bons velhos tempos, que encanta miúdos e graúdos. Um filme que convence pela sua criatividade não tecnológica.

Numa altura em que só se fala em 3 D, com a euforia de Avatar, e a moda que há muito se aplica ao cinema de animação, a Disney aposta num filme de puro desenho, chapado no ecrã, assumidamente de animação, sem tentar imitar a imagem real. O resultado é maravilhoso. A Disney coloca-se assim, simultaneamente, na corrente e na contracorrente: já em Março estreia a Alice, de Tim Burton, em 3D que se espera que seja, pura e simplesmente, o mais espectacular filme de animação jamais feito. Para já, dá voz a uma ideia que o 3D não terá de ser a única saída. Aliás, há muito se esperava a resposta da indústria às técnicas computadorizadas de imitação da imagem real, pois o modelo parece esgotado. Mais do que isso, da forma como tem sido feito, limita a criatividade gráfica, o que tem sido compensado pela habilidade dos argumentistas.

A princesa e o sapo é graficamente muito imaginativo, aproximando-se de uma linguagem de animação de escola europeia ou de filmes mais antigos da Disney. A nível artístico, de deslumbre estético, é do que melhor se viu nos último anos na indústria da animação a seguir à primeira parte de Wall-E.

A aposta em filmes de animação que assentam na qualidade dos desenhos pelas grandes produtoras está dependente do sucesso deste filme. Mas atendendo ao entusiasmo que se tem verificado, parece-me óbvio que será um caminho paralelo a seguir (sem abdicar do 3 D).

Mas há outras questões que fazem de A Princesa e o Sapo um dos mais significativos filmes de animação dos últimos anos. Talvez fruto da eleição e da popularidade do presidente Borak Obama, pela primeira vez a Disney apresenta uma princesa negra, contradizendo a capa da Vanity Fair que afirma que todas as grandes actrizes dos anos 10 serão brancas.

Além disso passa-se em Nova Orleães, uma das mais deprimidas regiões dos Estados Unidos que, para cúmulo, foi recentemente vítima de um flagelo chamado Katrina.

Nova Orleães também é a terra do jazz, que se ouve em todo o filme, como não acontecia na Disney desde os Aristogatos. A banda sonora jazzística é composta por um senhor habituado a ganhar Óscares com músicas para filmes: Randy Newman.

O filme, de resto, tem a estrutura de um musical, resgatando assim para a animação um outro formato que tem vindo a ser recuperado para os filmes de imagem real.

A história está muito bem construída, aproveitando a rica tradição de Nova Orleãs, de música, gastronomia e magia negra. Ao contrário do que acontece com outros filmes, as imagens ‘falam’ mais do que as personagens.

A moral está no sítio exacto, dando a lição que o mundo inteiro, e particularmente os Estados Unidos, precisavam de receber. Actualíssima. Que contradiz a ideia yuppie de que tudo se consegue com o trabalho, colocando-o como no mais elevado dos patamares. Tiana trabalha noite em dia, alimentando o sonho (americano) de juntar dinheiro suficiente para abrir um restaurante. Mas quando está quase apercebe-se que isso não é de todo o mais importante. O mais importante é o amor e a fraternidade, nem que isso faça de nós sapos eternos, em vez de príncipes e princesas.

1 comentário:

Jota CP disse...

A necessidade faz o sapo pular, diz que é um provérbio. a mim,faz-me lembrar a história do Mark Twain