terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Fantástico cinema fantástico

Encontro imediático com Mário Dorminsky, director do Fantasporto

O Fantasporto comemora 30 anos de exiistência. O JL falou com o seu lendário director, Mário Dorminsky, sobre este Festival de Cinema Fantástico que se transformou num Fantástico Festival de Cinema

Qual foi a edição mais difícil de organizar? A primeira ou a trigésima?
Seguramente que esta última, ou melhor, as edições mais recentes do Fantasporto. Trinta anos volvidos da criação de um novo projecto cultural, organizado por um grupo restrito de amigos cineclubistas que – considerando ser o género «fantástico» não um reportório de filmes nos quais o terror e o sangue impera, mas sim o imaginário e a ficção – não admitiu de início, que o evento pudesse ser o que ele hoje é: o mais prestigiado e respeitado internacionalmente dos certames cinematográficos realizados em Portugal.
Passado este tempo e, apesar das comendas, medalhas e prémios que recebemos em Portugal, sinto que o Fantas continua a ser, talvez por se realizar no Norte e não ser conhecido ‘in loco’ por muitos dos que estão envolvidos no meio cultural sobretudo de Lisboa, um evento que não tem o respeito devido. Se, nos primeiros tempos do Fantas, tudo era fácil, gerir agora um programa cujo orçamento ronda os 3 a 4 milhões de euros (a maioria em serviços) é assustador, em particular em tempos de crise como os que vivemos desde 2001.

Quando o Fantas começou era um entre pouquíssimos festivais portugueses. Agora há quase um contínuo de festivais em Portugal ao longo do ano, alguns deles com crescente renome internacional. É uma competição saudável?
Há de facto actualmente em Portugal eventos de cinema. Festivais há muito poucos. Mas não há «competições» entre eles. Cada projecto é distinto. O que é necessário para ser objectivo será conhecer cada um desses eventos para ver e sentir as diferenças que existem entre eles.

Há muito que o Fantas abriu as suas portas a vários géneros cinematográficos, apostando também em ante-estreias de grandes filmes. É preferível ter um fantástico festival do que um festival de cinema fantástico?
Gostamos de cinema e não exclusivamente de cinema fantástico. Desde há 20 anos que abrimos as portas ao cinema em geral, em particular aos novos realizadores que, devido à qualidade evidenciada nos seus filmes, mereciam a nossa atenção. Desde o arranque do Fantas que exibimos os primeiros filmes de autores como David Cronenberg, David Lynch, Ridley Scott, Guilhermo del Toro, Peter Jackson, Luc Besson, os irmãos Cohen, Tarantino enfim, a lista é interminável e pode ser consultada no nosso site. Interessante é que, excepto Ridley Scott, Peter Jackson e Tarantino, todos os outros vieram ao Fantas. Apresentaram as suas primeiras obras mas...ainda não tinham conquistado o prestígio que hoje têm não tendo o destaque merecido. Há mais de 20 anos que trazemos para a Europa o cinema vindo da Ásia, em particular o japonês e coreano. O Fantas foi a «porta de entrada» para o mercado europeu dessas cinematografias e dos seus realizadores...e para responder à sua questão, obviamente queremos organizar anualmente um sempre renovado e jovem, «fantástico festival de cinema.»

Qual é o grande realizador que gostaria de ver no Porto, mas que ao logo destas três décadas ainda não foi possível?
Tim Burton...só cá tivemos o Danny Elfman que lhe faz as bandas sonoras para os seus filmes.

Este ano o cinema português está mais representado. Acha que isso se deve a um acréscimo de qualidade da produção nacional?
Não está mais do que nos anos anteriores. Destacamos e homenageamos anualmente um realizador ou produtor, este ano será o Luís Galvão Telles. Longas e curtas inéditas, se seleccionadas, têm entrado por diversas vezes em competição (tal como acontece este ano) tendo até já conquistado diversos prémios. Mas é nas curtas-metragens que mais apostamos, até porque o Fantas é uma grande montra mediática para os seus criadores. Temos parcerias com diversas escolas de cinema portuguesas que apresentam programas onde incluem os melhores trabalhos de fim de curso, com a agencia da curta metragem, com a casa da animação, com o Cineclube de Avanca e até com festivais como o black and white e o frame. Mas respondendo à sua pergunta há claramente uma maior qualidade no cinema feito em Portugal desde a utilização do digital. Não é assim por simpatia que exibimos anualmente mais de uma centena de filmes ‘made in Portugal’.

Luís Galvão Teles é o homenageado. Quais as razões da sua escolha?
Empreendedorismo. Alguém que gosta de arriscar e que, tal como outros, marcou o cinema português contemporâneo.

A programação é vastíssima, até perder de vista, com vários ciclos, homenagens e competições. Por isso peço-lhe que destaque meia dúzia de obras que considere imprescindíveis?
Claramente as três secções oficiais. De outra forma os filmes não teriam sido seleccionados de entre os mais de mil que vimos, mas para mim será o fantástico ciclo de cinema francês. É a história do cinema contada em imagens através de filmes imperdíveis dos maiores realizadores mundiais, sobretudo para as gerações mais novas os poderem ver no grande ecrã.

Sente-se com força para mais 30 anos de Fantas?
Sim...se nos permitirem trabalhar mais a parte artística do que termos de estar absorvidos na gigante burocracia que é organizar um festival hoje em dia. Talvez...porque, «contra tudo e todos», o Fantas tem de continuar a existir comigo ou não...

1 comentário:

Fanzine Episódio Cultural disse...

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