sábado, 20 de fevereiro de 2010

Encontro Imediático com Joana Frazão

A Casa que Eu Quero, de Joana Frazão e Raquel Marques





A ideia nasceu numa viagem pelo País, com a amiga Raquel Marques, também ela licenciada em Cinema pela Universidade Nova. Pela janela desfilavam rotundas e casas de emigrantes, enormes, muitas vezes insólitas, desafiadoras dos planos urbanísticos e das convenções regionais. E resolveram realizar um documentário, mesmo assim, on the road, em que cada casa avistada determinasse uma paragem. E fazer aquilo que, no fundo, todos os viajantes gostariam e nunca tiveram coragem: bater à porta e espreitar lá para dentro. Por falta de apoios e facilidades logísticas, Joana e Raquel circunscreveram o documentário a Covões, aldeia «que nem café tem, foi fechado pela ASAE», em Paredes de Coura. Assim nasceu o documentário A Casa Que Eu Quero (antestreado na Cinemateca), e que mostra o lado de lá destas paredes de berma de estrada. As realizadoras partiram para este projecto com alguns estereótipos. Assim que transpunham as portas das maisons, muitos deles anularam-se. Não é, afirma Raquel, também tradutora nos Artistas Unidos, um documentário voyeurista. «As pessoas abriam-nos as portas e sentiam orgulho em mostrar-nos as casas, mas foi um filme motivado pela curiosidade, isso sim. Digamos que se tratou de espreitar de uma forma delicada.» Estas casas já não têm azulejos nem se parecem com chalets suíços, estão muito mais padronizadas, mas também têm algo de exibicionismo: as pessoas querem mostrar que lhes correu bem a vida lá fora, por isso há tantas varandas, jardins e sobredimensão. Lá dentro, as cineastas descobriram uma espécie de mundo alternativo, são casas normalmente fechadas o ano inteiro, só ocupadas durante o Verão, quando os emigrantes chegam de férias. Há uma sensação estranha, de vácuo, de despertença. Mas, no fundo, também exprimem uma grande necessidade de «um sítio onde possam voltar». Nas paredes das casas, as marcas de raízes já desapegadas, vidas de muito trabalho, um velho vestido de noiva, a sensação de se ser estrangeiro em duas terras. Enfim, diz Joana, o documentário não pretende ser um tratado sociológico, é apenas um filme honesto, que tem as marcas dos poucos meios com que foi feito. O objectivo de Joana e Raquel é continuarem a realizar documentários. O próximo já está a ser pensado. Será sobre casamentos, o dia da boda. No fundo, um desdobramento do tema das casas de emigrantes. Algo em que muito se investe e que também serve para mostrar.

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