quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Esta música dava um filme...


O compositor Alexandre Deslpat, autor de mais que uma centena de bandas sonoras, descreveu cinco das suas últimas criações


O Fantástico Sr. Raposo, de Wes Anderson.

Quando comecei a trabalhar com o Wes Anderson não me ocorreu que estava a fazer um filme de animação. Não fiz nada de diferente por causa do género. Mas é verdade que são marionetas. Trabalhar com o Wes é desafiador, porque ambos estamos interessados em fazer coisas diferentes, em correr riscos. Constituí uma espécie de orquestra de marionetas, fazendo a proporção entre o tamanho das personagens e do som. Assim, usei um quinteto de cordas, em vez de uma orquestra. E todas as instrumentações foram construídas segundo o mesmo conceito: banjos, bandolins, instrumentos pequenos… O que faz o som muito diferente. É uma forma de interpretar um filme de animação, sem ser demasiado óbvio.

Um Profeta, de Jacques Audiard

O filme fala de prisão e violência… A música corre no sentido contrário, nunca é violenta nem pequena, como se estivesse detida nas quatro paredes de uma prisão. Está a abrir um ângulo mais largo, para criar um exterior que não aparece no ecrã. A coisa mais importante que decidimos foi criar o som de um filme western. Por isso é que o filme começa com uma corneta, a solo. Mas não é uma verdadeira banda sonora de western

Coco avant Chanel, de Anne Fontaine

É a incrível história de uma mulher, de uma criança abandonada, que não é ninguém, não tem dinheiro nem futuro, e que devido a grande talento e energia torna-se Coco Chanel. Ela tem uma vitalidade incrível. A música, desde o início do filme, joga com isso. Podia ter induzido a tristeza, mas não o fiz. Pus uma pequena batida, que mostra que esta rapariga já tem um metrónomo dentro de si, que a vai levar daquela infância infeliz para uma outra vida. Ao longo de todo o filme, tento transmitir essa ideia de energia interior.

Julie & Júlia, de Norah Ephron

Os filmes são todos diferentes, o que me permite fazer composições distintas. Parte do filme passa-se hoje, outra parte nos anos 50 e 60, em França. Entretive-me a tentar colar estas duas histórias, a encontrar as ligações. Usei uma espécie de Henrii Mancini para os 50. E aligação entre os tempos, foi feita através da ideia de histórias do amor.

Cherri, de Stephen Frears

Um momento muito específico na sociedade francesa, durante a viragem do século, de XIX e XX, em que mulheres que não eram ninguém, podiam tornar-se qualquer coisa. A história de Cherri é intemporal, porque se pode relacionar com várias mulheres de hoje, que têm aquele carisma mágico. Depois dos 45, esse carisma começa a desvanecer-se. O que é incrivelmente triste e injusto para as mulheres. Cherri é sobre o amor impossível entre uma mulher e um homem muito mais novo. Trabalhámos muito para criar uma melancolia, que não é desesperadamente triste. É apenas a vida como ela é. Tentei criar essa saudade, que ela não mostra, porque está treinada para não a exibir.


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