sexta-feira, 11 de setembro de 2009

"Vou onde as histórias me levarem"

Entrevista com Milos Forman



É um convidado de luxo. Milos Forman vai estar no Douro Film Harvest, até 13 de Setembro, para apresentar um ciclo. Receberá uma pequena estatueta para juntar à sua farta colecção de prémio que inclui dois Óscares (Voando sobre um Ninho de Cucos, 1975; e Amadeus, 1984). O realizador checo-americano, de 77 anos, fala sobre o seu cinema e os seus projectos, que incluem um filme com guião de Vaclav Havel.

Em Os Fantasmas de Goya, refere-se ao Vinho do Porto, explicando que sabe melhor por ir embalado pela ondulação nos navios. Curiosamente, agora vai ser homenageado na terra do vinho...
Não serei propriamente um especialista em Vinho do Porto, mas bebo de vez em quando e gosto muito. Por isso, estou muito satisfeito por ter a oportunidade de conhecer a terra onde se cultiva. É a minha primeira viagem a Portugal. Atravessei uma vez o país de carro, mas não parei em lado nenhum, por isso não conta.

Quem escolheu os filmes que vão ser apresentados no Festival?
Prefiro sempre confiar no critério dos organizadores. Eles sabem, melhor do que ninguém, os filmes que lhes interessam mostrar, atendendo às características do público e do próprio país. Além disso, seria muito penoso para mim fazer a selecção: gosto de todos os meus filmes por igual, como se fossem filhos.

Tem um percurso extenso, com filmes marcantes e muitos prémios, será que ainda tem espaço para mais distinções? O que lhe resta fazer?
Há sempre espaço. O meu objectivo não é superar-me sucessivamente. Quero fazer o que me apetece da melhor forma possível. Descubro um tema que me entusiasma, uma história, uma personagem e depois, simplesmente, faço o filme.

E o próximo será O Fantasma de Munique…
Ainda não é certo, porque o financiamento não está garantido. Estão a tentar mas ainda não se sabe se vão conseguir.

O guião foi escrito a meias com o Vaclav Havel...
Somos amigos de infância e fomos mantendo o contacto. Estando este trabalho ligado à História da República Checa, achei que seria a pessoa indicada para me ajudar. Não só é um grande escritor como percebe muito de política – foi Presidente da Checoslováquia durante uma década.

É um luxo ter um ex-Presidente como guionista. Como é que um filme destes não consegue financiamento. É muito caro?
Não é assim tão caro. Mas o tema é delicado, mexe com a sensibilidade de muitas pessoas, em França e na Alemanha… Receiam que as pessoas não o queiram ir ver.

O Pacto de Munique determinou a invasão nazi da Checoslováquia, é um momento histórico de grande importância para os checos…
É importante para todos. Mostra algo na História da Europa que é muito significativo. O que aconteceu em Munique deve ser recordado. Por isso é que quis fazer este filme, que será filmado sobretudo na França e na Alemanha.

Em muitos dos seus filmes, prefere rodar em cenários reais, como em Espanha e em Praga, apesar de tal poder criar enormes obstáculos. Porquê?
Gosto de filmar nos sítios onde a história realmente aconteceu. Se a história se passa em Espanha, é para lá que eu vou. Dificuldades há em qualquer lado. Por vezes é muito difícil filmar em estúdio.

Ao longo da sua vida passou pelo nazismo, democracia, comunismo, o estilo de vida americano com diferentes presidentes. É algo que deve influenciar a sua forma de ver o mundo. Tal reflecte-se nos seus filmes?
Espero bem que sim, porque a malograda oportunidade que tive de viver em diferentes tipos de sociedades, fazem-me aperceber de tantas contradições nas nossas vidas e nos nossos mundos. Quanto mais experiência se tiver, melhor se entende o que se passa no mundo que nos rodeia.

Hoje em dia, sente-se mais checo ou americano?
Não consigo saber ao certo. A minha história na Checoslováquia está guardada profundamente no meu coração e na minha memoria. Contudo, da mesma forma está presente a minha experiência americana. O que me ocorre dizer é que somos todos cidadãos do mundo.

Alguma vez pensou em voltar a filmar em checo?
Nem por isso. Saí da República Checa há tanto tempo que se agora fosse para lá trabalhar sentir-me-ia um estrangeiro. No entanto, há dois anos fui a Praga fazer um pequeno filme na Ópera. Vou onde as histórias me levarem. Se uma história me levar para lá, eu vou. Se me levar para Portugal, vou para aí. Porque não?

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