A Esperança Está Onde Menos Se Espera, de Joaquim Leitão
Quando um árbitro se deixa enganar pela simulação de um jogador e marca um penálti inexistente é logo chamado de mil nomes, de larápio para cima. Ao jogador nada acontece, não é condenado, nem sequer moralmente, e com um pouco de sorte ainda é erguido em ombros, como herói: o artista do ano, a mão de Deus… A culpa não é do ladrão, mas sim do polícia Que o deixou roubar. Assim se passa no decrépito futebol português, que não mereceria estas linhas se não viesse a propósito do último filme de Joaquim Leitão, A esperança está onde menos se espera.
É que a personagem central, Francisco (Virgílio Castelo) é um treinador da bola, tema pantanoso no cinema português, depois de Corrupção (producer’s cut) e do inenarrável Star Crossed, um Romeu e Julieta da bola (parece que o melhorzinho é mesmo O Leão da Estrela).
Claro que Francisco não é um treinador da bola qualquer, a sua figura não pode ser inspirada em nenhum exemplo vivo, apesar de em determinada altura lhe chamarem O Mourinho da Cova (da Moura). É que se trata de um treinador que leva os preceitos de honestidade a um extremo risível. A sua equipa, de escalão inferior, chega ao final da Taça de Portugal, após ter eliminado o Porto no Dragão. Feito notável que torna o seu treinador cobiçado pelo Benfica. Só que nesse encontro decisivo dá-se um lance polémico. A falta é sofrida fora da área, mas o árbitro marca penálti. Através de um papel, o treinador ordena ao seu jogador: «Falha!». A equipa perde e o treinador não só é despedido como a sua «integridade» o impede de ser contratado por qualquer outro clube. Assiste-se assim a uma queda social, sua e da família, da vivenda do Restelo para a Cova da Moura, do colégio particular para a escola pública (no caso do filho), de Lisboa para Luanda (no caso da mulher). Toda a família fica fora-de-jogo.
Este não é um filme sobre futebol. O tema é demasiado curto. É um filme sobre o desemprego e o empobrecimento, sobre mobilidade social, sobre a aceitação do outro, sobre o desespero e a esperança. Poderia ser uma telenovela da TVI, daquelas que dão ao mesmo tempo que a
Curta valia do filme é a qualidade de alguns diálogos, sobretudo as deixas de José Carlos Cardoso (Mané), um actor bem achado no bairro, que se revela superior a todo o elenco. Mas não deixa de ser um passo em falso de Joaquim Leitão, realizador capaz do melhor e do pior, mas que já nos ofereceu grandes filmes, como Duma vez por Todas.
E se aqui se diz A esperança está onde menos se espera, de Joaquim Leitão, é por vício europeu de considerar os filmes dos realizadores. Este é um daqueles casos em que paira a dúvida sobre a autoria, embora o realizador nunca a tenha renegado (como aconteceu com João Botelho). É que aqui o produtor assume um protagonismo pouco habitual. Foi Tino Navarro que escreveu o argumento. E, para cúmulo, o filme é dedicado ao seu (de Tino Navarro) filho e ao seu pai. É como se uma equipa de futebol fosse treinada pelo presidente. Nunca deu bom resultado…
1 comentário:
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