terça-feira, 5 de maio de 2009

O neo-realismo americano…

…ou será que a América precisa de ajuda?

Ballast, de Lance Hammer






Wendy and Lucy, de Kelly Reichardt








Dois filmes apontam um novo olhar sobre uma América em crise, flagelada pela miséria e pelas assimetrias sociais. Um deles, Ballast, de Lance Hammer, ganhou o grande prémio IndieLisboa. Um outro Wendy and Lucy, de Kelly Reichardt, é um dos filmes mais belos que passou no festival. Ambos lembram a bandeira que Tommie Lee Jones ergue invertida em No Vale de Elah. Será que a América precisa de ajuda?
Ballast poderia passar por um Spike Lee rural. O realismo da história é exacerbado, mas enquadra-se numa tradição americana. Os problemas são os desequilíbrios familiares, as disfunções, as drogas e a falta de qualidade do ensino. Um país em grande depressão, triste e abatido que chega ao suicídio. Há um alerta para os perigos de uma juventude perdida, de personagens desencontradas e de medos desancorados. Contudo, termina em esperança, na superação dos fantasmas. Enfim, na retoma.
Wendy and Lucy é, desse ponto de vista, muito mais cruel. Talvez por o seu realismo se insira numa tradição mais próxima da europeia. É um on the road apenas na sugestão, não na prática. Um on the road amarrado. Um filme extremamente claustrofóbico, onde não se encontram saídas e se desenvolve uma opressão brutal sobre os mais fracos, no caso, Wendy, uma mulher que tenta chegar ao Alasca. E o Estado longínquo afigura-se como a única saída num país amarrotado.
Sem dinheiro, rouba uma lata de comida para dar à sua cadela, Lucy, que aqui adquire uma dimensão mais humana do que os homens. Facilmente se estabelece aqui um paralelo com Ladrões de Bicicletas, de Vittorio De Sica. E o próprio espectador se sente oprimido pela terrível injustiça. Depois passa por algo parecido com Alice, de Marco Martins, na incessante busca do animal que ganha um significado mais do que humano, num mundo cão. Porque deixa de ser sobre a perda em si e passa a ser sobre a paranóia, visível quando ela espalha a sua roupa pela cidade, na esperança que a cadela regresso por sentir o cheiro das suas calças. Termina no limite da comoção, com uma cena despedida só possível no grande cinema. Wendy and Lucy é o melhor (que eu vi) no Indie.

1 comentário:

Anónimo disse...

É um yellow dog americano - é essa a «marca» da cadela... E sim, parece-me que esta Lucy é uma forte candidata a marecer o prémio melhor cão do cinema de um próximo inquérito do Final Cut.
Obrigada
Jacintya C.