domingo, 10 de maio de 2009

O melhor filme do 25 de Abril

Duas «fugas», e dois «Luís Filipes», estiveram nos extremos do inquérito do FINAL CUT que, em tempo de celebração dos 35 anos do 25 de Abril, propôs aos visitantes que elegessem o melhor filme português sobre liberdade e resistência.

A primeira Fuga tem artigo definido antes – A Fuga - e é a primeira longa metragem de Luís Filipe Rocha, baseada na célebre fuga solitária de Dias Lourenço, preso político no Forte de Peniche.

A segunda Fuga foi a vencedora do inquérito com 28% dos votos. É um telefilme realizado em 1999, por Luís Filipe Costa. Baseado na novela de Mário de Carvalho, Apuros de um Pessimista em Fuga, conta a história de um homem (interpretado por Diogo Infante), militante comunista, perseguido pela Pide nas ruas de Lisboa. E tudo lhe corre mal, falham-lhe os contactos, os amigos esgueiram-se e ele para ali anda, tão desesperado que nem se apercebe que algo de estranho («inicial, inteiro e limpo») se passa nessa madrugada. Uma coluna de chaimites dirige-se ao centro de Lisboa na noite de 24 de Abril. Ele pensa que é mais uma coluna de tropa a preparar-se para partir para a guerra colonial. «Revoltem-se, pá», grita-lhes.

Curiosamente a mesma novela foi uma segunda vez adaptada, por Gonçalo Galvão Teles, numa curta-metragem chamada Antes do Amanhecer.

O documentário de Rui Simões Deus Pátria e Autoridade denuncia de forma clarividente os crimes do Estado Novo. Também poderíamos ter escolhido, do mesmo autor, Bom Povo Português, que apanha as meteorologias instáveis daquele verão do PREC em directo e, mas ainda não a cores, deste povo que tem tanto de bom como de sereno. Ambos os filmes foram agora reeditados em DVD.

Torre Bela, do alemão Thomas Harlan (com uns expressivos 18%), também foi rodado nos idos de Abril , quando dezenas de camponeses da desmesurada herdade Torre Bela, no Ribatejo, subiram ao palácio do «duque». Democracia, ano 1. Terra pouco arejada de ventos de progresso e de legalidade. Os aldeões ao patrão chamam «duque» e ao casarão palácio, e dizem: «Isto não é uma herdade, é um reino». Súbditos que arrastam enxadas, que equilibram cântaros de água à cabeça, que escaldam as mãos para as desinchar dos cardos e dos espinhos entranhados, depois da apanha da azeitona. E este é um documentário sobre os dias em que esta espécie de servos desta gleba se passaram a chamar «massas trabalhadoras ».

Cinco dias, Cinco Noites, a partir do romance de Manuel Tiago (Álvaro Cunhal), é um filme muito atmosférico e ambíguo de José Fonseca e Costa que firma definitivamente como actor, Paulo Pires e como um muito bom oponente, Vítor Norte no papel do passador Lambaça que anda a des(encaminhar) aquele menino da cidade através de montes e vales, numa peregrinação de sentido difuso.

Capitães de Abril tem tanta audácia e coragem (de Maria de Medeiros) – injustamente pouco reconhecida – daquele bando de capitães de Abril, que levaram às costas uma empreitada do tamanho da história de um país.

Edgar Pêra faz uma das suas perisses... Um documentário aventureiro, com uma montagem a um ritmo alucinante, dentro do estilo a que o subversivo realizador já nos habituou.

Quem é Ricardo?, de José Barahona, com argumento de Mário de Carvalho, narra dez dias de tortura do sono nos tempos do marcelismo. Podem vê-lo integralmente aqui

O Julgamento, de Leonel Vieira, é outro filme «mal julgado» e muito esquecido. E é pena porque este, que é talvez o melhor filme do realizador, completamente ofuscado pela monumental trapalhada que foi a Arte de Roubar. Conta a história de um ajuste de contas com a História recente do país. Uma espécie de catarse, um resgate do passado, uma terapia de choque, se quisermos. Três amigos, um professor universitário (Júlio César), um médico cirurgião (José Eduardo) e um engenheiro político (Henrique Viana, falecido após a rodagem) têm a oportunidade sonhada de um dia se confrontarem com o PIDE (Carlos Santos) que, trinta e sete anos atrás, os interrogara, os torturara e lhes matara um quarto camarada. Um thriller psicológico, que se move neste equilíbrio precário entre os torturados que se tornam torturadores, a justiça que se torna vingança, o passado que eles não deixam tornar-se... passado

Até Amanhã, Camaradas, de Joaquim Leitão (2005), baseado no romance de Manuel Tiago, é um telefilme, filmado para cinema, mas que nunca vigorou em sala. E passou directamente da TV para DVD. Foi o terceiromais votado neste inquérito (15%), e é mesmo para se ver a quatro olhos. Comprovem-nos nestes minutos iniciais, já a seguir…






A Fuga (1976), de Luís Filipe Rocha 0 (0%)


Deus, Pátria, Autoridade (1976), de Rui Simões 7 (7%)

Torre Bela (1977), de Thomas Harlan 18 (18%)

Cinco Dias, Cinco Noites (1996), de José Fonseca e Costa 11 (11%)

Fuga (1999), de Luís Filipe Costa 27 (28%)

Capitães de Abril (2000), de Maria de Medeiros 7 (7%)

25 de Abril - Uma Aventura Para a Demokracya (2000), de Edgar Pêra 1 (1%)

Quem é Ricardo? (2004), de José Barahona 3 (3%)

Até Amanhã, Camaradas (2005), de Joaquim Leitão 15 (15%)

O Julgamento (2007), de Leonel Vieira 3 (3%)

Antes de Amanhã (2007), de Gonçalo Galvão Teles 3 (3%)

1 comentário:

Rui Teixeira disse...

Olá.

Esta recolha é muito interessante. No entanto, tenho procurado em vão muitos destes filmes.
há algumas pistas sobre como os obter? (excepto, claro, o disponível no youtube...).

Muito agradecido
Rui teixeira