domingo, 3 de maio de 2009

Em estado crítico

Un Autre Homme, de Lionel Baier





Ainda há quem acredite que a crítica é uma actividade série e descomprometida, mas filmes como Un Autre Homme, do suíço Lionel Baier, uma das melhores obras que passou pelo Indie 2009, podem deitar tudo a perder. Sobretudo porque é sublime na delicada ironia com que espeta todas as farpas. Mais um brilhante exercício de cinema ao espelho na secção Director’s Cut, desta vez com os olhos postos nos críticos.
A citação de Oscar Wilde, de que não há nada mais nobre do que criticar um livro não lido, para evitar influências, serve de cúmulo. Mas há muitas outras perspicazes e agudas alusões, sempre com um humor elevado, como a listagem dos lugares comuns na crítica a Claude Chabrol.
François é de uma ingenuidade rebuscada. Acredita na pureza e na verdade – coisas que, obviamente, não existem e por isso tornam-se bloqueadoras – mas descobrimo-lo atraiçoando-se a si próprio, no mais vil dos crimes: o plágio.
Rosa, personagem deslumbrante, representa a segurança da elite ultra-sofisticada, racional e excêntrica, cheia de preconceitos e maneirismos, de uma verdade construída e manipuladora até ao último grau. Mas não é só um filme-debate, de punhaladas e unhas cortantes, sobre o próprio cinema. É sobre a perda da inocência. E o auge é quando Rosa, tão crítica que foge da vulgaridade nos pormenores mais ínfimos do dia-a-dia, resume a sou doutrina num conselho: «O mais importante é manter as coisas simples».
Claro que, para nós, portugueses, o momento mais inesperado é quando passa Beatriz Costa (na Canção de Lisboa) a cantar na televisão. E François comenta: «É demasiado mau, faz mal à vista».

1 comentário:

Anónimo disse...

Adorava ter visto esse filme. E agora como o encontro?
Margarida D.