quarta-feira, 22 de abril de 2009

Indie: A volta ao mundo em Filmes

A volta ao mundo em filmes

São 250 filmes, de 51 países, incluindo 23 estreias mundiais, ao longo de 10 dias. Entre 23 de Abril e 3 de Maio, todos os caminhos do cinema vão dar ao Indie. O Festival, que vai na sexta edição, cresce de ano para ano e hoje é um dos maiores do país. E já começa a ter grande relevância internacional. Tudo isto sem facilitar, em termos comerciais. Por aqui não passam blockbusters, nem se prevêem futuros êxitos de bilheteira. É um cinema manifestamente independente, uma oportunidade para ver obras de inequívoca qualidade. O Indie não é programado para agradar o público, mas o público, cada vez em maior número, deixa-se programar pelo Indie. Este ano, decorre em cinco espaços diferentes: São Jorge, Londres, Fórum Lisboa, City Classic Alvalade e Museu do Oriente. A selecção foi feita pelos seus directores, Miguel Valverde, Nuno Sena e Rui Pereira, de um universo de 3500 obras recebidas.
Este ano, o festival tem um raro privilégio: ante-estreia o filme de um realizador com mais de cem anos. Singularidades de uma Rapariga Loira, de Manoel de Oliveira, a partir do conto de Eça de Queirós, passou no festival de Berlim, e agora está no Indie, uma semana antes de chegar às salas portuguesas. Mas não é a única ante-estreia. Também Muitos Dias tem Um Mês, de Margarida Leitão, um documentário sobre o endividamento das famílias portuguesas, passará mais tarde em sala. E é previsível que o mesmo aconteça com Águas Mil, de Ivo M. Ferreira, o único filme português na competição internacional de longas.
Entre os estrangeiros, já estão comprados os direitos de exibição de Tyson, de James Toback, sobre o famoso pugilista; Ricky, de François Ozon; Dernier Maquis, de Rabah Ameur-Zaimeche.




Nas sessões especiais, destacam-se filmes portugueses. Jorge Silva Melo apresenta um documentário sobre o artista plástico Bartoleu Cid dos Santos; André Godinho revela a vida e obra de Manuel Hermínio Monteiro, o famoso editor da Assírio & Alvim; Joana Cunha Ferreira visita o arquitecto Nuno Teotónio Pereira; enquanto Catarina Alves Costa mostra-nos o cinema do documentarista António Campos.

Herzog, o aventureiro

Este ano todos os olhos estão postos em Werner Herzog, o cineasta aventureiro que, juntamente com Jacques Nolot, forma o quadro dos Heróis Independentes. E olhar para Herozg é olhar para o mundo. Serão pouco os realizadores que, ao longo da história, terão tido uma tão rica e diversificada perspectiva antropológica do cinema. No Indie passa uma mostra bastante completa da sua obra, organizada em colaboração com a especialista Grazia Paganelli, da Cinemateca de Turim. Uma programação muito vasta, desde os seus clássicos de ficção, como Aguirre, o Aventureiro e Fitzcarraldo, aos mais recentes documentários, como Encounters at the End of the World, que serve de inauguração do festival. São igualmente mostradas as suas primeiras curtas-metragens e uma espécie de auto-retrato, chamado Portait Werner Herzog.
O realizador alemão não vai estar presente no festival, devido a um compromisso de última hora, relacionados com os atrasos da rodagem do filme que está a preparar na companhia de David Lynch. Contudo é provável que passe por Lisboa o seu irmão e produtor. No dia 26, pelas 17 e 30, está agendada uma conversa sobre o realizador, com a presença de Grazia Paganelli e do crítico Luís Miguel Oliveira. E, durante todo o festival, está patente uma exposição com imagens da sua extensa obra à volta do mundo. Será ainda editado um livro sobre Herzog.
Bastante menos conhecido é Jacques Nolot, uma figura cara do festival. O actor, realizador e argumentista é uma personagem importante do cinema francês contemporâneo. É o argumentista de Eu não dou beijos, uma das mais famosas obras de André Téchiné, e tem uma curta carreira de realizador, com três longas-metragens: L’arrière-pays, La Chatte à deux têtes e Avant que j’Oublie. Para o São Jorge, no dia 1, às 17 e 30, está marcada uma conversa entre o realizador e o público.

Ponto de vista

Como é hábito, alguns dos nomes mais sonantes do Indie encontram-se no Observatório, que pretende ser um barómetro da produção mundial de cinema do último ano. Vários filmes se destacam, como as já referidas ante-estreias, ou La Belle Personne, de Christophe Honoré. O panorama é muito heterogéneo, da Itália (Il Divo, de Paolo Sorrentino) ao Japão (Tokyo Sonata, de Kiyoshi Kurosawa), sendo que um dos grandes destaque é Of Time and the City, do britânico Terence Davies, um filme autobiográfico, encomendado para Liverpool capital europeia da Cultura .
A secção Laboratório, destinada a obras de um carácter mais experimental, desapareceu do programa do Indie. Para compensar surgiram outras. Uma das mais interessantes é a de Cinema Emergente, sobre novas linguagens que se começam a impor pelo mundo. Daqui faz parte um dos grandes filmes do festival, Darnier Maquis, de Rabah Ameur-Zaimeche. Mas há muito mais, como Boogie, de Radu Muntean, um novíssimo cineasta romeno; Serbis, do filipino Brillante Mendoza; The Pleasure of Being, do americano Josh Sadfie; ou Tony Manero, do chileno Pablo Larain. Uma autêntica volta ao mundo em cinema. Inclui ainda seis programas de curtas-metragens.
E do globo se trata, na nova secção Pulsar do Mundo, dedicado a questões prementes, como o endividamento das famílias, em Muitos Dias tem o Mês, de Margarida Leitão; o trabalho infantil, em Los Herderos, de Eugénio Pulgovski; ou a criminalidade, em South Main, de Kelly Parker. O programa inclui curtas e longas-metragens.


Espelhos e sons

O cinema tem uma longa tradição de falar de si próprio. E a secção Director’s Cut não aborda apenas as versões editadas pelos realizadores mas, acima de tudo, filmes que reflectem sobre cinema. É o caso de JCVD, um curioso documentário de Mabrouk El Merchi, sobre o conhecido actor e kickboxer Jean-Claude Van Damme. Waiting for Sancho, uma espécie de making of de O Canto dos Pássaros, de Albert Serra, realizado por um dos seus actores, Mark Peranson. Double Take, uma incursão no universo de Hitchcock, onde se descobre o seu duplo, por Johan Grimonprez. E ainda Ashes of Time, na versão editada pelo seu realizador, Wong Kar Wai.
A música tem desde sempre uma grande presença no Indie, não tanto através de um programa paralelo de concertos, como fazem outros festivais, mas no grande ecrã, com documentários musicais e concertos. Destaca-se, Aldina Duarte: a Princesa prometida, de Manuel Mozos, uma média metragem sobre a fadista. Johnny Cash at Folsom Prison, acompanha o músico americano na sua actuação naquela prisão. Em You May Need a Murder observa-se a banda de culto da música Indie, os Low. E, em Kikoe, uma curiosa perspectiva sobre o músico experimental japonês Otomo Yoshihide.

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