quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Corpo presente

Corpo de Mentiras, de Ridley Scott




«Corpo de Mentiras» é um daqueles filmes da era pós-11 de Setembro que se podem assistir com uma espécie de checking list na mão. É só fazer a chamada...
Filtro amarelado para frisar bem que estamos em terras áridas do médio oriente? Presente.
Referencial abundante ao terrorismo islâmico? Presente.
Explosões, tiroteios, perseguições e emboscadas? Presentes.
Tortura, tensão, dedos esmagados? Presente.
Jogos duplos e triplos de agentes da CIA infiltrados? Presentes.
As respectivas manobras tecnológicas da espionagem globalizada? Presentes.
Zooms picados das alturas dos satélites até ao solo terrestre? Presentes
Ritmo acelerado e montagem convulsiva? Presente.
Alguma impressão digital do génio de um realizador tão inventivo como Ridley Scott, que um dia realizou o filme de culto Blade Runner?... Segunda chamada?... Definitivamente ausente.
E considerando o talento envolvido, mais se sente o peso da sua ausência. Não é por uma viagem ser rápida, sacudida, cheia de curvas e zonas de aceleração, que é menos monótona do que uma ronceira excursão num autocarro da carris, em que desde a primeira paragem se antecipa o todas as seguintes. É que assistir ao filme torna-se, a certa altura, tão previsível como um itinerário da carris. Só nos resta deixarmo-nos arrastar penosamente até à próxima paragem. Ainda por cima parece que já passámos por ali antes. Leonardo Di Caprio (operacional da CIA) a fazer de infiltrado ainda reforça mais o déja vu. Desta vez não penetra no covil da máfia irlandesa de Bóston, como no excelente Departed de Scorcesse, mas no covil dos lobos de um clone da Al Qaeda. As cenas do satélite são giras, é verdade, mas já tínhamos os mesmo efeitos com muito mais impacto, há sete anos, no fantástico Black Hawk Down, também dirigido por Ridley Scott, que mostra do alto a batalha de Mogadíscio, na Somália, como cenas do Google Earth. E depois do agente Bourne não há nenhuma montagem, por mais sísmica que seja, que ainda nos consiga impressionar. A dupla Di Caprio/ Russel Crowe (também agente da CIA mas fora do terreno) parece revestida a material isolante – pura e simplesmente a energia não passa. Nem faísca o forçado subplot amoroso entre Di Caprio e uma enfermeira local.

1 comentário:

Anónimo disse...

Fiquei tremendamente desapontado com este filme.

Ridley Scott sabe fazer melhor, tal como o autor do post referiu.

Afinal de contas, foi ele que realizou o fantástico Blade Runner!

Será que há medida que a velhice se aproxima, nos esquecemos da aventura que é ser jovem?

Porque é que Scott vai pegar num tema mais batido que os cocktails de James Bond, e nos oferece um filme recheado de clichês?

Não compreendo. Nós merecemos melhor que esta desculpa para filme.

Influencias hollywoodianas, talvez?