quarta-feira, 4 de junho de 2008

O nexo e a idade

O sexo e a cidade, de Michael Patrick King






Não é o fim do mundo, não é um desastre, nem nenhuma fatal desilusão – é apenas um blockbuster de Verão. E mais uma desnecessária confirmação de que o Princípio de Peter também se aplica ao cinema. De como uma série de televisão razoavelzinha se torna no mais insignificante produto cinematográfico da temporada. De como um tecto (baixinho, vá, destes dos apartamentos modernos) se transforma num chão. Ainda por cima cheio de entulho televisivo, iluminação e enquadramentos banais, planos médios básicos, personagens completamente inúteis para o guião e uma estrutura dramática tão profunda quanto um prato japonês. Não basta fazer um episódio crescer de meia hora para duas horas e meia (!!!) para transformar televisão em cinema. O formato dos 60 centímetros não cresce para os vários metros do grande ecrã como um pão com fermento. Se se limita a injectar hormonas de crescimento, o máximo que se pode esperar é um escanzelado, rijo e anémico frango de aviário. O Sexo e a Cidade é um frango de aviário. Não é incomestível (embora ao fim de hora e meia comece a ser duro de roer), não causa indigestões, não mata nem engorda, só não tem... ponta de graça.

Há uma piada do Sienfeld que pergunta o que iram achar uma espécie de aliens etnólogos se espreitassem cá para baixo e observassem o estranho comportamento de uns seres de duas patas que se passeiam atrás de outros seres de quatro e lhes apanham os excrementos com um saquinho: quem é que eles iam achar que manda no Planeta Terra, o seres de duas patas ou os de quatro?

E, perguntamos nós, o que iriam achar os mesmo aliens se resolvessem estudar as mulheres através deste filme? Que seres são estes que andam aos saltinhos, passam a vida aos gritinhos (inhos, inhos...) e têm as conversas mais entediantes do mundo, à hora do almoço? Ainda por cima, mantém-se o estratagema narrativo mais facilitista e telenoveleiro do mundo, que é fazer as personagens conversar em redor de uma mesa... Que estranhas criaturas estas que passam sempre carregadas de sacos, que andam saltitantes de pijama e chinela de salto alto em casa, que se deitam de colar ao pescoço e rejubilam de alegria quando recebem um closet como prenda de casamento? Que estranhas criaturas estas que vão passar férias ao México sem saírem da borda da piscina e se riem desalmadamente quando uma delas tem um desarranjo intestinal? Ainda por cima nem têm vidas amorosas interessantes, do ponto de vista dramático: são todas monogamicamente maçadoras... E para senhoras que dão tanta importância à moda, a moral da história é de uma confrangedora pobreza franciscana. Mais ou menos isto: o amor é a palavra-chave, literal e metaforicamente. E até sentimos tonturas e vertigens perante essa abissal originalidade.

Os estereótipos são sempre os do costume: mulheres a falarem despudoradamente de sexo e de homens. Estas não são mulheres reais. São uma espécie de projecção gay das mulheres. Do tipo como certos gays homens gostavam que as mulheres fossem... Sempre a mudar de roupa, a comprar sapatos e a cobiçar acessórios. Às tantas o filme torna-se no mais monótono catálogo de moda, com direito à secção vestidos de noiva.
O mais pungente não é esta trivial caricatura, mas o tom tragicamente desactualizado destas fanáticas da moda. Mais quarentonas ou cinquentonas, não é isso que interessa. O problema não é a idade (nem a cidade), mas a falta de nexo (e de sexo, ao que elas dizem). O que conta é que este é um modelo importado dos anos 90, sem a mínima preocupação de adequação aos dias de hoje. Uma delas até prepara um jantar ao marido: Sushi, imagine-se. Tal foi a ânsia do autor do filme em não transgredir as fórmulas do passado, que nos apresenta um filme envelhecido à nascença. Povoado de estranhas patetinhas do século passado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Primeiro: tu nao sabes puto do filme, da para perceber que nem sequer o viste! Depois se nao gostavas do género da série, investiste no filme para? Há pessoas que nao sao burras, sao estupidas!Vou so dizer que fiquei incrivelmente assustada com a ausencia de um lado feminino da parte da pessoa que publicou este relatório de falta de educação... Será que nao terá sido um dos tipicos portugueses gordos, feios que gostam de ficar no sofa a enfrascar-se de cerveja barata e a dar ordens a mulher? é o que mais parece! Por isso deixa-me que te diga, as mulheres gostam de compras, de ficar bonitas, porque beleza nao é um estado é um sentimento! E se nao és assim, és uma mulher no corpo mas homem no resto! MEDOOOOOO...
E Como nao é so criticar, vou dar-te um conselho, nao critiques tanto as coisas, respeita tambem, porque afinal somos todos diferentes, e aposto que nao ias gostar de ver um relatorio repleto de ma educação, arrogancia e estupidez sobre uma coisa que gostas. Tens todo o direito a não gostar, mas mede as palavras...